sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Luxemburgo versus Bommeleeër (Bombista)

Limpar o pó debaixo do tapete

A expressão pertence a um dos deputados luxemburgueses, reagindo em catadupa face às últimas (r)evoluções que conheceu o caso Bommeleeër , na semana passada.

Depois de dissipado o rumor que envolvia um dos membros da família grã-ducal nos atentados bombistas, os investigadores voltaram a interessar-se por uma das velhas teorias – a do insider [fonte interna, neste caso, "causa interna"]. Dois polícias são agora os principais suspeitos, revelava na semana passada o Procurador de Estado, que já se insurgiu várias vezes contra as negligências cometidas pela polícia ao longo da investigação. A defesa tomada em favor dos dois suspeitos pelo director-geral da Polícia, Pierre Reuland, valeu-lhe uma reprimenda por parte de Luc Frieden. Desconfortável na sua posição de ministro da Justiça e da Defesa (abrangendo esta última o Exército e a Polícia), Frieden sancionou Reuland, admoestando-o a não mais se pronunciar sobre o dossiê. Desconfortável porque Frieden sente que poderá perder a gestão das duas pastas se deixar intensificar o braço-de-ferro entre a polícia e o sistema judicial.

Depois de alguns lamentáveis episódios (tentativas de evasão, suicídios, etc) na prisão de Schrassig, Frieden não pode deixar que mais um dossiê manche o seu mandato.

As investigações sobre os atentados apontam cada vez mais para um ou mais bombistas saídos efectivamente das fileiras da polícia, que conheciam bem as idas e vindas das forças da ordem e os locais que não estavam sob vigilância policial, tendo assim a oportunidade de cometerem 19 atentados sem serem incomodados. Além disso, uma arma pertencente a um polícia havia sido encontrada num dos locais dos atentados, pormenor que, estranhamente, nem sequer constara, até recentemente, no dossiê. Entre outros esquecimentos e desleixos (intencionais?).

A questão é: quem beneficiou com os erros e negligências cometidos durante a investigação? Não é estranho que nem as colaborações do FBI e da polícia científica alemã tenham ajudado na investigação?

Se não for resolvido este espinhoso e opaco caso, em que dominou a falta de transparência voluntária ou involuntária por parte dos investigadores ao longo de mais de duas décadas, quem mais perde é, sem dúvida, o ministro Frieden. Muito mais do qualquer outro responsável da pasta antes dele. A própria polícia e justiça luxemburguesas ficarão profundamente desacreditadas. Se não o estão já! É que a população diz à boca fechada que os verdadeiros culpados nunca serão capturados, mesmo se todos sentem que nunca se esteve tão próximo do desenlace. O mesmo povo que cicia a meia-voz que a brigada encarregada de conduzir as investigações e que fora criada há pouco tempo na altura dos acontecimentos tinha dificuldades em canalizar verbas e efectivos para o seu serviço, reivindicações que foram largamente atendidas após o início dos atentados.

Nesta verdadeira crise de duas das mais importantes instituições luxemburguesas, só a verdade pode evitar que caia "a Gëlle Fra e o Palácio Grão-Ducal" (adaptação livre da expressão portuguesa o "Carmo e a Trindade"). Apenas a verdade, confortavelmente varrida para debaixo do tapete, acabará com os rumores. Mesmo que depois provoque algumas errupções cutâneas ou alergias colectivas.

José Luís Correia (in Contacto, 05.12.07)

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