Sexta-feira à noite, 22h30.
"Quero mudar o karma da minha cama..." disse a ruiva de O Sexo e a Cidade à amiga e eu cortei o som e insurgi-me comigo próprio: "Foda-se, mas para que é que eu estou a ver uma cretinice destas?"
Bom, talvez porque é sexta-feira à noite e porque por uma vez o Gaspar decidiu ficar em casa, no aconchego do lar, gozando o regaço morno da Jenny, agora que cultivo há três meses a monogamia exclusiva compulsiva. Calma, não é contagioso, queria experimentar... e estou a gostar. Mas, claro que, como cada bela tem o seu senão, esta relação continuada alterou por completo o meu ritmo de vida. Diurno e nocturno.
Mas é por isso que numa sexta-feira à noite estou frente à televisão a ver lamechices destas? Não! O televisor nem estava aceso.
O serão começou com uma refeição ligeira, seguido de um duche sensual. Os beijos e amassos começaram na banheira, na sequência natural das brincadeirinhas com o champô nas partes pudibundas. O piso escorregadio do local fez-nos, no entanto, optar por outra faixa de aterragem. No sofá, enrolada no seu toalhão, a Jenny recostara-se languidamente para trás, na grande almofada e estendera as pernas nuas sobre um pouf. No movimento de as deixar deslizar uma na outra, como uma femme fatale num filme pulp, o tolhão ia descaindo e desvendava ambrósias apetecíveis.
A Jen estava pronta a ser colhida, como um pêssego maduro que só espera que dois lábios sedentos venham primeiro beijar-lhe a pele em flor e depois sugar-lhe a polpa sumarenta. Eu estava a escolher um cd de chill out tango como banda original sonora da dança horizomtal que se anunciava... e o telefone tocou.
É a Mandy, uma amiga da Jen, que precisa u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e falar com ela. E a Jen, eterna samaritana das causas perdidas, como sempre com o coração nas mãos, está lá dentro há 50 minutos a ouvir ladainhas.
Vai disto, peguei, mais por automatismo do que por costume (juro!), no telecomando e liguei o televisor no canal 6, como sempre. Estava a passar um milésimo trigésimo sexto episódio de O Sexo e a Cidade. Só não zappei logo porque uma das gajas da série tinha cruzado um gajo na rua que a convidou para ir beber um café e ela não só aceitou logo como no fim ainda lhe deu o n° de telemóvel ...sem que ele tivesse pedido!!!
E, numa deambulação do espírito, puramente sociológica (re-juro!), dei comigo a pensar: "Balelas! Mas quantas vezes é que este tipo de merdas acontece na realidade?" E antes que pudesse responder a mim próprio "Nunca!", lembrei-me da vez em que aquela francesa se meteu comigo no Marx. Em cima da hora de fecho do bar convidou-me para uma cerveja, depois para a seguir até ao (infame) "Tiffany's" em Metz. Duas horas e meia mais tarde estava no marmelanço com ela, no meu carro, frente a casa dos pais, num daqueles arredores residencais que se parecem todos uns com os outros.
Gasparices! Os tempos agora são outros, menos faustos em quantidade mas largamente compensados em qualidade. Que bom estar em casa à sexta-feira à noite, em vez de andar aos empurrões, com um copo de vodka na mão, num bar apinhado, com miúdas anoréxicas ou candidatas a tal, que nos fazem sentir pedófilos aos 34 anos, e com música de martelinhos insistente e enervante a dar a dar nas têmporas.
Estou a ficar entradote? Que se lixe. Assumo completamente os meus serões cocooning.
Voltei a devolver o pio à Carrie Bradshaw, a quem alguém dizia naquele preciso instante: "Não é que eu não tenha vontade de fazer amor. Mas tenho a impressão que as gerações antes de mim vulgarizaram tanto o sexo que banalizaram o acto!"
01h30 da manhã -
Mas como tão contrário a si é o próprio homem... quando o episódio estava no seu melhor - uma das amigas de Carrie ia começar um threesome - a Jen apareceu em lingerie sugestiva e veio sussurrar-me ao ouvido que queria compensar o tempo perdido.
Penitente, ajoelhou-se diante de mim, massajou-me os boxers, extraiu de lá o meu sexo que se fazia difícil, e prodigou-me uma convidativa felação. Eu até já nem queria. Não, não estava nada distraído com a série!!!... Mas a natureza teve razão de mim. O sangue subiu-me à cabeça e a coisa continuou com um 69 já no quarto. Não aguentando mais, ela ajustou-se em cima de mim para a grande cavalgada. Ouvi a generala Chester ordenar a carga e o tropel deflagrar sobre mim. Depois de ela se vir, pu-la de quatro para algumas investidas selváticas caninas, momento em que deixamos o bárbaro primitivo regressar a nós. Mas foi só depois de ela ficar deitada de costas, com as pernas por cima dos meus ombros e de mais algumas estocadas bem mandadas que consegui por fim também chegar à pequena morte e desfalecer afundado nela.
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