sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

terça-feira, 8 de maio de 2007

Radioscopia prévia da Era Sarkozy 2007-2012

Como vai evoluir a França até 2012, durante o Sarkozismo? Talvez o pequeno estadista apesar da sua estatura franzina incarne, com a sua personalidade pretensiosa, o salvador da nação para muitos franceses, talvez seja a pessoa certa para redinamizar a economia, revalorizar o trabalho, recentrar o país nos eixos, limpar a escumalha, voltar a dar orgulho à nação.
Permitam-me que duvide!

Sarko/Bush – as duas nádegas de um mesmo cu

Já ouvi este discurso populista e a descair perigosamente para o nacionalismo antes! Também plebiscitado democraticamente. Em Fevereiro de 1933 e em Novembro de 2000! O primeiro com as consequências que se conhecem. O segundo, actualmente, em plena fase de esfusiante expansão.
Se nos detivermos apenas no segundo exemplo, o que mudou desde o “golpe de estado” de Bush em 2000 (considero que mesmo se foi eleito e não re-eleito em 2004, ninguém pode ser candidato a um posto que ocupou ilegitimamente!)?

- Duas guerras (Afeganistão e Iraque), três (Israel-Líbano), se considerarmos que Telavive se sentiu suficientemente caucionado e protegido pelos EUA (a patrulhar na zona) para desencadear, no Verão de 2006, uma guerra em cima daquele barril de pólvora que é o Médio Oriente. Teme-se uma quarta guerra. Com o Irão. Espera-se que não aconteça uma nova invasão “à baía dos porcos”, e que o “homem do bretzel” se consiga controlar até às eleições presidenciais norte-americanas de 4 de Novembro de 2008.

- Dois novos muros da vergonha: um a Norte de Israel, logo imitado (ou terá sido o contrário?) pelo muro na fronteira sul dos EUA com o México. Temo que estes belos exemplos de intolerância e ultrasecuritarismo não serão certamente fomentadores de paz, muito pelo contrário.

- Uma 2ª Guerra Fria? – Os EUA insistem em montar na Polónia e na República Checa um escudo anti-mísseis, argumentando querer proteger-a si a aos países-amigos, contra a ameaça nuclear iraniana. A Rússia não quer ouvir falar em misseis americanos tão perto de Moscovo e avisou que se Washington não voltar atrás nesta decisão, retira-se do tratado de não-proliferação de armas nucleares. Esperam-nos umaa nova escalada nuclear?

- Intensificação do radicalismo islâmico que se considera o único contra-peso à potência mundial dos EUA

E Sarkozy subscreve toda esta linha política de Bush, como bem o fez perceber no seu discurso após o anunciar do resultado das eleições de domingo. Deu o sinal a Washington que a “Era Chirac” terminou. Bush pode contar com um novo aliado deste lado do Atlântico. E em demonstrações de força e deslizes políticos a cópia não fica nada a dever ao original.
Bush foi protagonista do maior número (131) de execuções na cadeira eléctrica ou por injeção letal enquanto foi governador (1985-2000) do Texas (o estado-campeão nas execuções), tendo apenas diferido um caso em 15 anos (em plena pré-campanha eleitoral para as presidenciais de 2000).
Durante a sua passagem no Ministério do Interior, Sarkozy incentivou as forças policiais a serem mais “firmes e convincentes” na ordem pública, com as consequências e derrapagens que se conhecem. E a recorrer sem pejo às administrações e serviços pagos pelo erário público para uso pessoal, como o episódio em que pediu análises de ADN para apanhar o larápio que furtara a lambreta ao filho. Ou a influência subreptícia de que usou para que a imprensa regional e o habitualmente independente Canal + não promovessem o debate Royal-Bayrou, depois da primeira volta das presidenciais francesas.

O pequeno príncipe


Apesar de se dizer próximo do francês médio do povo, tudo na sua atitude, ascendência e descendência indicam exactamente o contrário. Além de neto e bisneto de governadores de província húngaros de família nobre (lado paterno) e de judeus gregos de Salónica (do lado materno), Sarkozy cresceu e foi criado em Neuilly-sur-Seine, os arredores chiques parisienses. Um dos irmãos é um patrão poderoso do sector têxtil em França e ex-patrão do MEDEF (organização patronal mais forte de França) e dois dos seus meios-irmãos são banqueiros influentes em Nova Iorque.
Ninguém escolhe a família, admito, mas os gostos burgueses estão bem enraizados no “petit Nicolas”. Depois de anunciada a sua vitória nas presidenciais de domingo, passou a noite, com a esposa, no Hotel Fouquet’s (uma noite custa entre 1.500 e 2.590 euros) e na segunda-feira partiu para umas mini-férias milionárias a bordo de um iate ao largo de Malta, para “descansar da campanha eleitoral”. Um iate de um amigo seu, magnata dos media. Não só estas "férias" deixam um sabor amargo ao operário que votou para ele e que ganha, esse, pouco mais do que o salário mínimo francês (+- 1200 euros), como revela uma densa teia de relações de clientela entre o futuro presidente e os maiores empresários de França.
Quando, nas decisões, o prato da balança tiver que pesar entre trabalhadores e patronato, não há dúvidas para que lado Sarkozy fará força. E aí servirá o velho argumento ultraliberalista que tudo é feito para relançar a economia, mesmo que haja "baixas" pelo caminho. "Tudo pela França, nada contra os franceses", onde é que já ouvi algo parecido?

O clash em Maio de 2008?

A mim, assustam-me os antecedentes de Sarkozy e como este começou o seu reino, ainda antes de ser entronizado, o que deverá acontecer dia 16 de Maio. Ainda mais depois de este ter declarado na Radio France Inter, a 29 de Abril - dias antes da segunda ida às urnas, o que mostra que Sarkozy estava certo de vencer e já não tinha nada a ocultar – que repudiava os “herdeiros do Maio de 68”, que acusou de terem destruído “os valores e a hierarquia”.
O que me faz prognosticar que mesmo que o novo presidente engane a plebe com “pão e circo”, egalanando-se nos primeiros meses de mandato, podendo mesmo vir a vencer a eleições legislativas de Junho, o “clash” com a França-país real (ou “la France d’en bas”, como dizem os franceses) se dará o mais tardar em Maio de 2008. É que as festividades do 40° aniversário prometem ser, no mínimo, controversas. E o povo é quem mais ordena!
Em França, sempre que a geração nascida do “baby-boom” (a maioria, portanto!) se convulsionou, a sociedade revolucionou-se: em Maio de 1968, com estudantes e jovens operários; e nos anos 80, com as mulheres a reivindicarem e a conquistarem o mundo do trabalho monopolizado até então pelos homens.
Hoje, essa geração está a chegar ao “papy-boom”. Foi essa geração que, emburguesada e desabusada dos velhos ideais, se chegou à direita e elegeu Sarkozy. Mas acordará a tempo para dar um novo safanão na França, se Sarkozy derrapar? Ou terão que ser os filhos da geração de Maio de 68 a pegar no testemunho, como mostraram que o sabem fazer quando foi das manifestações anti CPE*?
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*CPE, Contrato Primeiro Emprego - projecto-lei proposto pelo primeiro-ministro Dominique de Villepin (o mesmo governo de que fazia parte Sarkozy), em 2006, e que precarizava ainda mais o emprego jovem. O CPE destinava-se a jovens com menos de 26 anos e como o seu nome não indica, podia ser aplicado mesmo que não se tratasse do primeiro emprego do jovem. O CPE previa que depois de um período à experência, o patrão podia durante um período de dois anos despedir o jovem sem invocar quaisquer razões. Se nesse período o jovem se despedisse não poderia beneficiar do fundo de desemprego.

Caricaturas: "O amigo dos americanos", desenho de Bleibel, publicado no "Al Mustaqbal", Beirute; "Moi Napo, toi Jeanne", desenho de Pismestrovic, in site do "Courrier International".

3 comentários:

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