sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Luxemburgo, país-fantasma depois das 18h?

À noite, nem todos os gatos são pardos!

É muito comum ouvir-se dizer que não há vida nocturna nem verdadeiro pulsar cultural no Grão-Ducado. Mas como quase todas as ideias preconcebidas, a constatação parte de uma leitura demasiado superficial da realidade ou da falta de um bom guia.

Não se pode comparar a vida artística e nocturna da cidade do Luxemburgo à de outras capitais europeias, como Paris, Londres ou mesmo Bruxelas, mas, condicionado à dimensão geográfica, o Luxemburgo vai fazendo esforços proporcionais.

A capital europeia da cultura, título que o Luxemburgo recebeu pela primeira vez em 1995, ajudou muito para esse despertar da oferta cultural e nocturna. Em 2007, a cidade volta a assumir esse papel, alargando-o à Grande Região, querendo-se agora sobretudo desmistificador do rumor de que o Grão-Ducado é um deserto cultural, uma praça financeira com torres de vidro e betão, que morre depois das 18h, um país-fantasma.

Mas todo o borbulhar de ideias, eventos culturais, novos artistas, espaços de lazer e vida nocturna só existe verdadeiramente quando é devidamente divulgado.

OS PIONEIROS

Foi a pensar nisso que nasceu em 1997 um projecto inovador, a revista "Nightlife.lu", das "Mike Koedinger Editions" (mke), e, na mesma senda, em 2000, o site "alex.lu" (ainda hoje activo em www.alex.lu ), que começaram por fazer as primeiras foto-reportagens da vida nocturna luxemburguesa. Enquanto o portal do Alex, graças a uma equipa dinâmica e ao boca-a-boca, se tornava o melhor retrato da "noitadas" no Grão-Ducado, a revista "Nightlife.lu" passou a ser "o" guia obrigatório da noite para o público jovem.

Foi nesta onda e num formato mais abrangente do que o alex.lu que o site bomdia.lu, inaugurado a 10 de Junho de 2001, veio responder a essa necessidade de divulgação na internet da vida nocturna, espectáculos, bailes, eventos e cultura no seio da comunidade portuguesa.

Em Outubro de 2001, também a televisão TangoTV (depois TTV) se lançou na divulgação da "noite" com o programa "Clubbing", apresentado pela carismática Jacky Monteiro (hoje na rádio DNR), emissão que durou até 2004. Um ano mais tarde, é a vez de o programa de televisão "WonnerBar", do não menos famoso Dan Vinkowski, se interessar pelos eventos da vida nocturna. O programa estreou no canal dok em 2005, foi transferido alguns meses mais tarde para a TTV, onde o último programa foi difundido no Verão de 2006.

Mas já em 1999, na sua edição de Dezembro, a "Nighlife.lu" revelava que o pioneiro nestas andanças teria sido o enigmático "X-Non-Magazine", de Gino Ricca, um fanzine que existia desde 1984, distribuído em círculo restrito, "underground" e com periodicidade irregular.

Com o passar do tempo, a "Nightlife.lu" evoluiu para uma revista de corpo inteiro sobre tendências e actualidades, a "Nico" (em 2003), dotando-se de um grafismo arrojado, comparável ao que de melhor se faz no estrangeiro. Com a transformação em Novembro último da "Nico", de publicação mensal em semestral (a última edição saiu em Abril de 2007), a equipa de Mike Koedinger passou a ocupar-se da revista mensal "Rendez-Vous", editada pela autarquia da cidade do Luxemburgo.

Entretanto, já outros estão a tentar ocupar o lugar deixado vago no mundo da divulgação de eventos ligados à cultura, arte, moda e vida nocturna no Grão-Ducado.

Novos guias
dA CULTURA E DA NOITE

Exibindo como subtítulo "agenda cultural do Luxemburgo e da Grande Região", a última em data apareceu em Novembro de 2006 e responde pelo nome de "Artscene" (nada a ver com o bar do mesmo nome!). Publicada em língua francesa, com edição mensal e preço de capa de dois euros, a nova revista tem formato de bolso (A5). Vocacionada prioritariamente para a divulgação das artes cénicas, a revista não se deixa acantonar em rótulos e alarga-se à vida artística no Luxemburgo num plano mais geral. Assim, além de tratar dos concertos, peças de teatro, ópera, dança, café-teatro, filmes e exposições em exibição no país, inclui ainda uma secção dedicada às "noitadas" e às melhores moradas de restaurantes, bares e discotecas.

Editada pela edições "Euro-Editions", a "Artscene" tem uma tiragem de 10 mil exemplares.

Recorde-se que esta mesma editora tentara já em 2004 lançar uma revista de lifestyle . Contando com um responsável português à frente do projecto (Paulo Simões) e o sugestivo título de "Spoon" (colher), a revista (também em formato A5) terminou após poucas "colheradas" (uma dezena de edições!).

Uma outra aposta editorial , que foi dada a lume em Junho de 2006, é um jornal em língua inglesa que se dirige preferencialmente aos incondicionais da música. Com o irreverente título de "Up Front", o mensário pretende ser "o guia de orientação musical para o Luxemburgo e a Grande Região", como anuncia em primeira página.

Publicado pela "Clearbay Ltd" e distribuído gratuitamente, o jornal divide-se em várias secções que vão muito para além da música e respondem assim à procura de informação cultural da vasta comunidade anglófona: música e vida nocturna; arte e cultura; entrevista e palco; mente, corpo e alma; livros e filmes; 18-24; crianças; e desporto.

Existe ainda a revista mensal "Nightlife-Mag", que vai já na sua 22a edição e que aborda temas como novidades da tecnologia, automóveis, moda, cinema, desportos radicais, mas também notícias da música, clubbing e bares no Luxemburgo. Editado pela "Nightlife Belux", a revista tem formato A4 e é a edição luxemburguesa da revista francesa "Nightlife Metz", com assuntos e temas adaptados ao Luxemburgo.

Ponto comum entre todas estas publicações: podem ser encontradas, quase sempre gratuitamente, nos teatros, museus, galerias de arte, salas de espectáculo, bem como em pontos comerciais habituais onde param os jovens, desde salões de cabeleireiros na moda, a lojas de roupa, cafés, bares ou discotecas.

Na televisão, as emissões de Jacky Monteiro e Dan Vinkowski esperam um digno sucessor.

Na internet, portais sobre a "noite" como luxembourgnightlife.com party.lu ou winter-clubbing.lu , entre outros, encontram-se mais ou menos activos.

Até os representantes de uma cultura mais tradicional perceberam esta tendência e lançaram no Luxemburgo a Noite dos Museus em 2001, que tem desde então granjeado um sucesso crescente. O recém-chegado Museu de Arte Moderna (Mudam), no Kirchberg, resolveu mesmo "semanalizar" esse hábito e propor visitas nocturnas gratuitas às quartas-feiras, entre as 18 e as 20h.

Balanço da nossa deambulação nocturna: a vida cultural e artística está a florescer no Luxemburgo, foram feitas apostas nesse sentido com a edificação de novos "templos" – Sala Filarmónica, Centro Cultural-Abadia de Neumünster, Museu de Arte Moderna, Rockhal, Rotondes, etc. –, abriram novas galerias de arte, os bares e discotecas descentralizaram-se e multiplicam as "noites brancas", diversificam-se, apostam em música ao vivo, concertos, showcases , o bairro do Grund está a tornar-se o refúgio predilecto dos artistas, os eventos e happenings sucedem-se, a fauna nocturna está cada vez mais animada. É só preciso saber encontrar o "mapa" certo para aquilo que se procura!

José Luís Correia (in Contacto, 09.05.07)

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