da perfeição
quem concebeu os homens à sua imagem
e lhes deu uma cor diferente
quem dividiu as águas e apartou os oceanos ?
que ninguém una o que deus separou
as naus rebeldes da subsistência
inventaram um outro hemisfério
romperam ventos e cabos
fundearam em praias, deram baías aos santos
todos do calendário e nomes ao xadrez dos dias
quem riscou o mundo
quem recortou as terras e os mares em gomos de laranja
quem foi buscar o tempo da gaveta universal
e dividiu o dia que sempre nasce inteiro
quem empurrou o mundo para o regaço da via láctea,
quem pôs tudo isto a rodopiar
quem puxou o cordel original
do insondável pião galático
quem perdeu todos os berlindes coloridos na toalha negra imensa ?
novas naus cruzam os céus
em busca do sentido de tudo isto
para explorar as migalhas que restam do piquenique original
como se uma explicação fosse precisa
para a perfeição que não existe.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
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2 comentários:
Mensagem enviada por cavic:
Não gosto menos deste poema apoteótico de um mundo entre Régio e Pessoa / A. Campos, entre Gedeão e Alegre, talvez mesmo camoneano no que ele tem de epopeico, mas também com reminiscências fundacionistas, que são uma constante em outros poemas que já me deu a ler e que traduzem, por isso, uma preocupação cosmogónica do autor.
O gosto da viagem, viagem aos fundamentos da génese do universo e dos seus habitantes são outra vertente que me apraz registar, até porque se cruza com um registo metodológico que faz parte também da minha procura poética.
Um belo poema!
Para reflectir...
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