sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

djihad

A noite é bonita neste meridiano,
confunde-se com o oceano,
As pontas das estrelas queimam a lua crescente.
O céu em fogo risca a toalha dos deuses.
De oriente chegam novos reis
magos da palavra, mas nem tudo o que luz é ouro.
Ouço o ruído de lutas que começaram
ainda as águas do dilúvio não tinham secado as terras.
Hoje não secam do sangue.

E eu, entre o temor de novas invasões bárbaras
e as promessas vazias que o poente encerra,
aperto o crucifixo ouro-indigo às minhas novas vestes,
assisto mudo aos loucos que me empurram para o abismo.
A caravana impávida passa, enquanto os cães
não ladram, medram. Já cheira a deserto.
A minha boca sedenta de tangerinas,
prata, marfim, canela, chá de hortelã psicótico, açafrão.

Com as minhas malas aos pontapés,
desço pelas escadas do hotel.
Mas é com os tomates cheios de tesão
que percebo que a mocidade é refém da perfeição,
que a profundidade e a claridade do beco obscuro,
que é o idealismo dogmático acneico,
depende do amor-próprio que já houver brotado,
da tolerância e da luta que deve sempre começar cá dentro
com a minha própria djihad.
Não é erro, nem recuo. É balanço, horizonte mais abrangente,
para saltar mais adiante.

Assoma Sócrates à porta
e repete que nada sabe de nada.

Olho no meu relógio de eon as pontas do holoceno piscarem.

A brisa matutina retarda as suas asas.
A madrugada cinzenta e brumosa ainda vai demorar.

1 comentário:

Alexandre Gaspar Weytjens a.k.a. José Lus Correia disse...

mensagem enviada por CAVIC:

Gostei, gostei mesmo muito...
de um poema sarcástico até à medula
de um poema que incomoda
de um poema com muita força crítica
de um poema rico em expressividade e em recursos de um plasticismo linguístico que faz lembrar alguma pintura modernista - talvez "Guernica" ou o acrobático e inultrapassável quadro "Construção mole com feijões cozidos" de Dali
ou
o poema de um naturalismo cru e cruel
chamado Palestina
que ensombra todas as promessas de paz
enfim
de um poema em que o autor revela muita garra e um olhar atento ao universo que o rodeia que só espera ser publicado com outros que me mostrou.
Continue!