livros lidos este Verão
- "La mémoire et le feu - Portugal: l'envers du décor de l'Euroland", Jorge Valadas. Ensaio político que se resume a apedrejar os recentes governos, da esquerda à direita, dos comunistas aos bloquistas. Ninguém escapa. Não ousa porém tocar na efígie do "el-comadante" Álvaro Cunhal. A leitura que faz da actual política e das politiquices portuguesas é, diga-se em abono da verdade, inteligente e certeira. Mas o discurso sobre a "utopia portuguesa", com que se seduz o leitor na introdução e na contracapa, e que eu debalde esperei, não acontece. Li gato por lebre.
- "Planisfério Pessoal", de Gonçalo Cadilhe. A volta ao Mundo por terra e por mar do antigo jornalista da Grande Reportagem, publicada no Expresso, entre Dezembro de 2002 e Julho de 2004.
- "O cartógrafo do Infante", de Frank G. Slaughter. Romance com um bom enredo e que prende o leitor desde as primeiras páginas e que aproveita os vazios da História para romancear alguns mitos dos Descobrimentos Portugueses. Aventura, sexo, amor, traição, histórias e História. Boy meets girl, boy gets in trouble, girl saves boy. Em paralelo, o cartógrafo veneziano André Bianco, com ligações à família dos Médicis, feito escravo por corsários árabes, navega enquanto tal até aos mares da China e Cipango (Japão), cem anos antes de qualquer europeu lá chegar (os primeiros, os portugueses, chegariam em 1540!), e entra depois ao serviço do Infante D. Henrique, ao mesmo tempo que se apaixona, numa enseada de Sagres, por Leonor Perestrelo, filha do futuro governador da Madeira. Toda e qualquer semelhança com Cristovão Colombo é, evidentemente, pura coincidência.
- "Minto até ao dizer que minto", de José Luis Peixoto. Episódio "blasé" sobre a passagem amorfa das deambulações vagas e desilusórias pós-adolescentes à vida adulta nesta primeira década do século.
- "Um homem sem pátria" de Kurt Vonnegut. O autor de origem alemã, naturalizado norte-americano, que se celebrizou com "Matadouro 5" (sobre o Holocausto), escreve aqui artigos corrosivos (já o foi mais!) e com bastante humor (já também foi melhor!). Entre memórias da sua infância (nos anos 30) e críticas à actual administração Bush, é o regresso de um autor que está a gastar os últimos cartuchos para mostrar que a sua verve ainda vive.
- "A Máquina do Arcanjo", Frederico Lourenço. É o último capítulo de um tríptico, mas pode ser lido separadamente. O amor e o sexo gays no Portugal dos anos 80. Pequenos toques de humor deliciosos.
- "Sete Noites" de Alina Reyes. Pequena história sem muito enredo, escrita noite após noite, na primeira pessoa, com sensualidade tântrica e erotismo feminino.
- "Em Paris" de Ramalho Ortigão. Relatos das impressões e dos encontros do dia-a-dia do literato português na capital francesa em 1868. As comparações do mundo parisiense com uma sociedade portuguesa burra, casmurra, analfabeta, analfabruta e empertigada são inevitáveis e de uma aflitiva actualidade.Ramalho, o irmão-gémeo de Eça.
- "Quatro Gigantes" de Ramalho Ortigão. Textos do autor sobre Camões, Garrett, Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz. O título, pobre de conteúdo, duvido que pertença ao autor e seja antes uma escolha publicitária e infeliz da editora. Isso nota-se aliás pelos textos escolhidos. Enquanto os ensaios sobre Camões e Camilo se revelam bastante interessantes e completos, nota-se que a parca página e meia sobre Garrett não passa de um texto recuperado de uma petição da altura para tresladar o corpo de Garrett para o Panteão Nacional; os textos sobre Eça fazem parte da correspondência privada do autor e que, não obstante o seu interesse inequívoco sobre a vida e obra de Eça, não são biográficos nem completos nem a tal pretendiam.
- "Profecias do Bandarra", de Gonçalo Anes Bandarra. As trovas do Sapateiro de Trancoso. Boa introdução que situa o autor no seu contexto social e histórico.
- "Future Perfect", Ed. Jim Heimann. Cartazes, desenhos, ilustrações de cores berrantes, artigos e capas de revista de ficção científica sobre o que os nossos contemporâneos dos anos 1940-1960 imaginaram sobre um futuro que nunca chegou a acontecer: comboios para a lua, túneis subterrâneos sob o Atlântico, aviões de passageiros de quatro andares, submarinos privados, etc.
BDs e novelas gráficas
- "Cité de Verre", com textos de Paul Auster, ilustrações de Paul Karasik e David Mazzucchelli. Excelente enredo e desenhos. Adinha-se a dificuldade que os desenhadores tiveram para imaginar as partes mais elípticas e opacas da história. Sairam-se com nota 10.
- "Catálogo de Sonhos", de José Carlos Fernandes (JCF)
- "O Depósito dos Refugos Postais", de JCF
- "Pessoas que usam bonés-com-hélice", de JCF
- "A última obra-prima de Aaron Slobodj", de JCF. Todas as histórias de JCF se desenrolam num mundo paralelo onde os habitantes até se parecem connosco mas o mundo evoluiu prolongando um não-sei-quê négligé e blasé dos anos 40 e 50, como se tivesse sido preservada a nossa ingenuidade pré-Segunda Guerra Mundial. De episódio para episódio, descobrimos uma nova personagem, uma nova cidade, um novo promenor, uma nova história. Histórias deliciosas, humanas, trágicas, delirantes, loucas, tresloucadas, mas tão verdadeiras...mesmo quando são (apenas?) pura ficção e poesia gráfica.
em leitura
- "Contos Satíricos", contos do Oeste de Mark Twain
- "Pobre e Mal Agradecido", ensaios políticos de Rui Tavares
- "Os Livros da Minha Vida", Henry Miller
- "Ninfomaníacas e Outras", Irwing Wallace
- "Os Cento e Vinte Dias de Sodoma", Marquês de Sade
- "Todos os Dias", Jorge Reis-Sá
leitura incidental
- "A noite abre os meus olhos", colectânea poética de José Tolentino Mendonça
- "O Teu Rosto", António Ramos Rosa (foto infra)
- "Mundos Paralelos", teses recentes da Física explicada em miúdos por Michio Kaku
quinta-feira, 24 de agosto de 2006
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