sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Gaston Roderes, chefe de Redacção do CONTACTO vai para a reforma

José Luís Correia entrevista Gaston Roderes Foto: Á. Cruz
Gaston Roderes, Chefe de Redacção do CONTACTO entre 1995 e 2002, retirou-se da vida profissional, no passado dia 1 de Agosto. Foi por esta ocasião que nos voltámos a encontrar com Gaston Roderes para uma pequena conversa de amigos, mais do que para uma entrevista, e falarmos da sua carreira de mais de 40 anos no Jornalismo, no seio da "Imprimerie Saint-Paul", e da sua experiência, nos últimos anos, à frente do CONTACTO. Gaston Roderes nasceu em 1940, na Cidade do Luxemburgo.

Viveu os seus anos de Juventude em Useldange e Cessange, frequentou o "Lycée des Garçons" de Diekirch e depois o da capital. Aos 21 anos entra ao serviço da "Imprimerie Saint-Paul" + (ISP, hoje renomeada "saint-paul luxembourg"), onde depois de trabalhar nos Serviços Administrativos, assume os comandos da Redacção Desportiva do "Luxemburger Wort" (LW); posteriormente inaugura e dirige a Rubrica Automóvel, função que viria a desempenhar até 2000.

Em 1995 é nomeado membro da Chefia de Redacção do LW. Reside há longos anos em Mamer, onde foi sempre activo a nível político, tendo sido durante 12 anos, Adjunto do Burgomestre.

CONTACTO: Depois de longos anos a trabalhar no mundo do Jornalismo, a reforma vem como o descanso merecido? 

Gaston Roderes: Sim, penso que é um repouso merecido, mesmo se nas primeiras semanas é difícil mudar os hábitos que regeram durante anos a nossa vida.

É difícil desligarmo-nos por completo do Jornalismo, daí estar contente por alguns colegas da Rubrica Automóvel continuarem a solicitar, de vez em quando, a minha colaboração. Não é portanto uma ruptura abrupta, porque uma longa carreira no Jornalismo não se corta como um fio, de um dia para o outro.

CONT.: Pode-nos contar como foi passar estes anos todos na "ISP" e no "Luxemburger Wort"?

G. R.: Quando assinei pelo "Wort" tinha 21 anos e acabado de fazer o meu Serviço Militar, obrigatório na altura. Estou contente por ter passado toda a minha vida activa no seio da ISP. Fui membro dos Serviços Administrativos, depois de alguns anos, chamaram-me para a Redacção Desportiva, na altura em que o "Wort" decidiu aumentar as suas páginas de Desporto.

Foi um desafio que aceitei e que marcou um período muito agradável da minha vida. Seguiu-se a Rubrica Automóvel, que começámos a partir do zero. Também essa foi uma época muito interessante da minha carreira. Viajei pelo Mundo inteiro e guardo boas recordações. Senti-me sobretudo muito honrado pela Direcção, que me convidou há cerca de seis, sete anos para ser membro da Chefia de Redacção. Ser membro do grupo "saint-paul", da Redacção e da Chefia de Redacção representou para mim uma grande honra.

CONT.: Durante a sua passagem pela Rubrica Desportiva estabeleceu contactos com grandes figuras do Desporto, como, por exemplo, Josy Barthel... 

G.R.: Sim, convivi de perto com Josy Barthel, enquanto ele foi Presidente do Comité Olímpico Luxemburguês. Depois quando foi Presidente da Federação Luxemburguesa de Futebol (FLF), pediu-me para eu ser o seu Acessor de Imprensa. Cruzei muitas outras personalidades internacionais do Desporto, entrevistei o então Presidente do Comité Internacional Olímpico, Juan Antonio Samaranch, aquando da sua visita ao Luxemburgo, antes dos Jogos Olímpicos de Sapporo (N.d.R.: XI Olímpiadas de Inverno, em 1972). Tive ainda a oportunidade de contactar de perto com o Grão-Duque Jean e o com o actual Grão-Duque Henri (n.d.R.: membros de honra do CSOL, enquanto Soberanos), quando este era jovem, nos famosos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972 (N.d.R.: Olímpiadas de Verão), onde houve aquele trágico ataque terrorista ao bloco israelita... Tenho efectivamente recordações que não se apagarão tão cedo.

CONT.: No Jornalismo, as coisas mudaram muito no último meio-século? 

G. R.: Tudo evolui e o Jornalismo tem evoluído em todas as épocas. Aqui no Luxemburgo, evoluiu sobretudo depois do aparecimento da Televisão, nos anos 50. Mas as verdadeiras mudanças vieram mais tarde, no fim dos anos 60, quando tivemos que alterar o carácter das reportagens que eram feitas até aí: não bastava relatar os eventos de forma cronológica, era preciso acrescentar os antecedentes e o comentário. Tivemos que reinventar o Jornalismo e explorar os campos que a Televisão não podia, nem tinha tempo de trabalhar. Também ao nível técnico houve grandes evoluções: quando comecei no "Wort", os jornais ainda eram feitos com os caracteres de tipografia inventados por Gutenberg, e hoje é tudo feito por computador. Penso que devo ser dos raros membros da Redacção que conheceu três máquinas rotativas diferentes na ISP. Três rotativas na vida de um Jornalista também é um pormenor que marca (risos).

CONT.: Como vê o futuro do Jornalismo? Com optimismo? 

G. R.: Com um optimismo moderado. Mas tenho a profunda convicção que a Imprensa não se extinguirá se souber adaptar-se às necessidades da sociedade actual e se fornecer um trabalho de qualidade. Cada vez mais, os leitores são pessoas formadas e sabem fazer a diferença entre um Jornalismo sério e um que não o é suficientemente. Sério, não em relação ao conteúdo das reportagens, mas da qualidade do que se escreve, ou seja, do tratamento da língua que utilizamos, seja ela qual for.

CONT.: Quer falar-nos sobre a sua "aventura" no CONTACTO? 

G. R.: Quando me propuseram essas funções, hesitei em aceitar porque não sabia falar nem ler o Português. Mas, finalmente, concluiu-se que era necessário alguém que tivesse por missão coordenar o CONTACTO com os diferentes serviços do resto da empresa e que tivesse em conta, em estreita colaboração com a Redacção, a linha editorial da casa. Não me arrependo de ter aceitado, proporcionou-me muitos e bons momentos na minha vida quotidiana. Mesmo em fim de carreira, foi uma experiência muito enriquecedora, permitiu-me estabelecer novos contactos com a Comunidade e as Autoridades Portuguesas no Grão-Ducado, mesmo se lamento não terem sido mais intensas. É com orgulho que olho hoje para os anos que trabalhei com o CONTACTO, porque este foi afinal o único órgão de imprensa a ter tão bem evoluído e tanto, nos últimos anos. Desenvolveu-se ao nível redactorial, aumentou o seu volume de publicidade – o que hoje em dia não é de forma nenhuma evidente nestes tempos difíceis, sabemo-lo em toda a imprensa. No CONTACTO aconteceu exactamente o contrário e isso deveu-se sobretudo à evolução crescente do seu conteúdo redactorial. Hoje, com uma distribuição de 16 mil exemplares, tornou-se indiscutivelmente o principal elo de ligação entre a Comunidade Portuguesa e os restantes residentes do Luxemburgo.

CONT.: Já falámos do futuro da Imprensa. E para o CONTACTO, há um futuro? 

G. R.: Para o CONTACTO há um futuro que não tem directamente nada a ver com as reflexões que fiz há pouco, sobre a Imprensa em geral. Neste momento, não vejo razões para se pôr em questão o futuro próximo do CONTACTO. Com a sua taxa de penetração a um nível em constante crescimento (ver CONTACTO de 9 de Agosto de 2002) e havendo uma procura, cada vez maior, de informação por parte da Comunidade lusófona residente no Luxemburgo, hoje, mais do que nunca, o CONTACTO tem a sua razão de ser. E hoje é – ninguém o pode negar –, a publicação em Língua Portuguesa mais importante do Luxemburgo e penso que ainda vai continuar a ser assim, durante anos. Claro que é preciso ver como o jornal evoluirá e qual a sua relação com os jovens portugueses daqui. Se o dia chegar em que estes já não falem nem entendam o Português, evidentemente será preciso questionar a existência do jornal. Mas, a meu ver, não é para já. Espero que o CONTACTO continue nesta senda dos últimos anos. De uma pequena folha associativa, o CONTACTO conseguiu, em poucos anos, impôr-se no meio da Imprensa luxemburguesa, de uma forma que ninguém esperava.

CONT.: Para terminar, tem alguma mensagem especial para os leitores do CONTACTO e para a Comunidade Portuguesa em geral? 

G. R.: "Primeiro que tudo, gostaria de agradecer à equipa com a qual tive o prazer de trabalhar. Obrigado a todos os que confiaram em nós, especialmente aos leitores, que, estou convicto, continuarão fiéis ao jornal. Um obrigado também a todos os comerciantes e empresários que nos fizeram confiança a nível publicitário. Agradeço a todas as pessoas que tive a oportunidade de conhecer através do CONTACTO, com as quais vivi momentos muito interessantes. Espero que todos os Portugueses continuem a sentir-se bem no Luxemburgo. Aliás, o CONTACTO sempre defendeu que Luxemburgueses e Portugueses deviam viver juntos neste país e não cada para para o seu lado." Ao seu ex-Chefe de Redacção deseja o CONTACTO uma reforma repousante, descansada, mesmo se sabemos que continuará a colaborar com o "Luxemburger Wort", porque uma paixão e uma dedicação de 40 anos pelo Jornalismo não se acabam de um dia para o outro.

José Luís Correia 
in CONTACTO, 16/08/2002

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