O artista português de 36 anos reside no Luxemburgo desde 2010, depois de uma viagem iniciática musical que o levou do Grão-Ducado a Londres, Lisboa, Oklahoma e Texas. Hoje a sua música está impregnada com o pó da mítica Estrada 66 e das rotas do rock. Ao fim de quase vinte anos, regressou às terras grã-ducais, onde se prepara para lançar um novo álbum de originais.
O artista é um dos dois concorrentes portugueses ao Purple Idols (ver texto infra).
De seu nome verdadeiro Hugo Gouveia, o artista explica ao CONTACTO que não é um novo talento nem "artista de concursos".
"Ando nisto há muito tempo, não sou artista de concursos. Se participo neste, é porque fui convidado pela organização, que me pareceu séria. Vou aproveitar para promover o meu novo álbum ‘Radio Nights’, que sai em Abril", diz. O álbum é um cocktail sábio de 11 músicas folk rock.
Como é que um português chega a este som? Para isso é preciso perceber a viagem iniciática de Lata Gouveia.
Lata nasce em Lisboa, vive a sua infância no Grão-Ducado, mas a sua vida artística começa aos 17 anos, na década de 90, durante a qual forma várias bandas em Londres, de blues, rock, pop e reggae. Ali, chega a gravar um CD, produzido por Paul Lennon, em 1997. Foi estudar para Inglaterra, depois de ter frequentando a Escola Europeia no Luxemburgo, nos bancos da qual cruzou, recorda, Brian Molko, o vocalista dos Placebo, "ele era uns anos mais velho", que pouco antes também seguira para Londres. Forma-se em Economia e Negócios, durante algum tempo chega mesmo a usar "fatinho e gravata", ri-se hoje, numa agência financeira da City, o bairro financeiro da capital londrina. "Era um bom emprego, bem pago, mas quando me ofereceram uma promoção e mais responsabilidades, senti que estava a ficar preso e larguei tudo", recorda. O apelo da música era mais forte.
Dos Lata Dog à carreira a solo como Lata Gouveia
Contrariando o pai, funcionário europeu que preferia vê-lo seguir "uma carreira estável", deixa o emprego e insiste na vocação musical, que o leva de volta a Lisboa. Aquele que ainda se chamava Hugo é convidado por Luís Galvão Teles, que também residiu no Luxemburgo, para compôr a banda sonora do filme "Tudo Isto É Fado" (2003). Volta a formar uma banda, desta vez de reggae-pop, os Lata Dog, que chegam a granjear algum sucesso. Cruza muitos nomes do mundo da música em Portugal, mas disso não guarda boas recordações.
"Nas rádios, só tem 'airplay' [lista de músicas que passam no ar, n.d.R.] quem se submete às leis dessas rádios, e só vinga no mundo da música quem tem cunhas. Vivi no Luxemburgo, depois em Londres, não estava habituado a trabalhar dessa forma. Fiquei muito desiludido", confia.
Os Lata Dog gravam um álbum, “Lead the Way” (2004) e fazem uma digressão por Portugal, Espanha, Escandinávia e Reino Unido, acompanhando os Primitive Reason. A coisa parece bem encaminhada, mas a editora falha na distribuição do álbum e este não chega às lojas. Além disso, uma grande rádio nacional retira o apoio à banda porque esta recusa actuar "de borla" num dos eventos da estação. Estes reveses minam o futuro da banda e o moral do cantor. Mas da experiência lusa, fica-lhe o nome artístico, Lata Gouveia, pelo qual passa a responder nos palcos.
Decepcionado com o país e a cena musical lusa, que considera “viciada”, regressa em 2005 para Londres, para apostar numa carreira a solo.
“Pus-me a fazer o que gosto de fazer, escrever e compôr. Gravei uns temas folk, o álbum chamou-se ‘Dead Time’, porque era um tempo morto mesmo. Publiquei as canções no MySpace e um dia, um velhote americano, Rocky Frisco, enviou-me uma mensagem a dizer que gostava da minha música. Quando 'googlei' o nome, descobri que era uma lenda viva e o pianista do meu ídolo musical, J.J. Cale", recorda com emoção.
Os anos americanos
Rocky Frisco convida-o em 2007 para actuar em Tulsa (Oklahoma), onde cruza nomes famosos do blues, folk, rock&roll, country e do jazz. Passa três ou quatro anos a viver e a trabalhar entre o Oklahoma, o Texas e Londres, onde mantem a residência oficial.
Aprende "o som de Tulsa", estilo que influenciou gerações inteiras de músicos como Eric Clapton, Marc Knopfler, Elton John, George Harrison ou Joe Cocker, adopta o "Red Dirt" (mistura de country e rock&roll), percorre as rotas do rock e passa a viver como um verdadeiro songwriter americano, a actuar em salas de bowling, cafés de motoqueiros à beira da mítica Estrada 66, mas também em salas e festivais mais conhecidos.
Em Austin (Texas), grava o álbum "Road US 75", com a Captiva Records. Um ano depois, em 2009, realiza um documentário, com Matthew Lochman, em estilo de road-movie, intitulado “Red Dirt: Songs from the dust”, como um testemunho dos seus “anos americanos” (reddirtdoc.wordpress.com/), filme que foi premiado num festival do Oklahoma. Naquele estado, Lata é mesmo considerado um filho adoptivo, sendo convidado no Verão de 2011 a ser o cabeça-de-cartaz do famoso "Red Dirt Off Route 66 Tour", numa altura em que já não vivia nos EUA.
"O mundo da música é profissional no Luxemburgo, as pessoas cumprem o que prometem e respeitam os contratos. A cena musical luxemburguesa não está viciada, como noutros países", diz Lata. O Liquid, famoso bar do Grund, que é um dos seus "poisos" preferidos, como cliente e como artista, não hesita em qualificá-lo no seu site como "o melhor songwriter de música country actualmente a viver no Luxemburgo".
A banda de Lata Gouveia (voz, harmónica, guitarra), é composta por Daniela Kruger (baixo), Paul Porcelli (guitarra/bandolim) e William Bur (bateria). Algumas das canções podem ser ouvidas na sua página oficial em www.lata-gouveia.com, com um link na sua página Facebook, ou no seu canal no Youtube.
Os próximos concertos de Lata Gouveia são: 18 de Janeiro, Purple Lounge, Casino 2000, (Mondorf-les-bains, ver caixa infra); 26 de Janeiro, The Pyg (Clausen); 2 de Fevereiro, Liquid (Grund); 9 de Fevereiro, Little Woodstock (Ernzen); 9 de Março, Maniac Bar (Waldbredimus); 14 de Março, Liquid; 22 de Março, Ancien Cinéma (Vianden).
Lata é uma das duas participações lusas nos Purple Idols,
do Casino de Mondorf, a 17 e 18 de Janeiro
Lata Gouveia e a banda Hopesound (estes últimos foram entrevistados em Dezembro pelo CONTACTO) são as duas participações portuguesas na terceira edição do concurso de talentos “Purple Idols”.
As meias-finais, com os oito artistas que passaram a fase de pré-selecção no mês passado, decorrem a 17 e 18 de Janeiro, no Casino 2000, em Mondorf-les-bains. Os Hopesound actuam dia 17, às 22h. Lata Gouveia passa pelo palco no dia 18, às 22h30. Cada um tem meia-hora para convencer o júri e o público.
Os lugares são limitados, por isso, o Casino propõe duas fórmulas: os bilhetes custam 20 euros, se reservados previamente, pelo tel. 23 61 14 20 (Casino), e a partir das 20h, a entrada é gratuita, para quem aparecer por lá.
José Luís Correia
in CONTACTO, 09/01/2013
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