sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sábado, 5 de maio de 2012

Poema do Herói


Herói

Eu era um índio
vestia uma velha serrapilheira
na qual a minha mãe tinha cortado franjas
e colado fitas coloridas
calçava as pantufas da minha tia a fazer de mocassins
e elas punham-me riscas de baton no rosto
a imitar pinturas de guerra
para eu lutar contra o Batman e o Zorro.

Também eu queria resgatar a fada e a princesa
mas elas não queriam.
O Batman e o Zorro ganhavam sempre. 
Pum, pum, pum e eu tinha que morrer
mesmo se não me apetecesse.

Como pode o vilão ser tão bem mandado?

Eu preferia fumar o cachimbo da paz,
escolher penas de águia para enfeitar o cabelo
e partilhar o lanche com a minha squaw
debaixo da carteira da professora imitando o tipi.

Mas a Anita soltava um gritinho
e fugia esconder-se atrás do Osvaldo ou do Bruno.
Como pode uma princesa preferir um herói
vestido de morcego ou de raposa ?

No ano seguinte fiz uma birra
e quis um coldre, um colete,
uma estrela, um chapéu de cobói
e uma pistola que dava estalidos e tudo.
Mas a princesa veio de Pocahontas
e as setas do Gerónimo 
vieram colar-se à testa do xerife mau.

JLC05052012

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