Herói
Eu era um índio
vestia uma velha serrapilheira
na qual a minha mãe tinha cortado franjas
e colado fitas coloridas
calçava as pantufas da minha tia a fazer de mocassins
e elas punham-me riscas de baton no rosto
a imitar pinturas de guerra
para eu lutar contra o Batman e o Zorro.
Também eu queria resgatar a fada e a princesa
mas elas não queriam.
O Batman e o Zorro ganhavam
sempre.
Pum, pum, pum e eu tinha que morrer
mesmo se não me apetecesse.
Pum, pum, pum e eu tinha que morrer
mesmo se não me apetecesse.
Como pode o vilão ser tão bem
mandado?
Eu preferia
fumar o cachimbo da paz,
escolher penas de águia para enfeitar o cabelo
e partilhar o lanche com a minha
squaw
debaixo da carteira da
professora imitando o tipi.
Mas a Anita soltava um
gritinho
e fugia esconder-se atrás do
Osvaldo ou do Bruno.
Como pode uma princesa preferir um herói
vestido de morcego ou de raposa ?
No ano seguinte fiz uma birra
e quis um coldre, um colete,
uma estrela, um chapéu de cobói
e uma pistola que dava estalidos e tudo.
Mas a princesa veio de Pocahontas
e as setas do Gerónimo
vieram colar-se à testa do xerife mau.
JLC05052012
Sem comentários:
Enviar um comentário