Uma equipa internacional, que inclui três
astrónomos do Observatório Europeu do Sul (ESO), utilizou a técnica de
microlente gravitacional para determinar quão comuns são os planetas na
Via Láctea. Após uma busca que durou seis anos e onde observaram
milhões de estrelas, a equipa concluiu que os planetas em torno de
estrelas são a regra e não a excepção.
A maioria dos exoplanetas conhecidos foram encontrados ou pelo efeito gravitacional que exercem sobre a sua estrela ou por passagem em frente da estrela diminuindo-lhe ligeiramente o brilho. Ambas as técnicas são muito mais sensíveis a planetas que ou são de grande massa ou se encontram próximo das suas estrelas. Por consequência, muitos planetas terão escapado a estes métodos de detecção.
Uma equipa internacional de astrónomos procurou exoplanetas utilizando um método totalmente diferente - as microlentes gravitacionais - o qual permite detectar planetas num grande intervalo de massas e também os que se encontram muito mais afastados das suas estrelas.
Arnaud Cassan (Institut d’Astrophysique de Paris), autor principal do artigo na Nature explica: “Durante seis anos procurámos evidências de exoplanetas a partir de observações de microlentes. Curiosamente, os dados mostram que os planetas são mais comuns na nossa galáxia do que as estrelas. Descobrimos também que os planetas mais leves, tais como as Super-Terras ou Neptunos frios, são mais comuns do que os planetas mais pesados.”
Os astrónomos utilizaram observações, fornecidas pelas equipas PLANET e OGLE (*2) , nas quais os exoplanetas são detectados pelo modo como o campo gravitacional das suas estrelas, combinado com o de possíveis planetas, actua como uma lente, ampliando a luz de uma estrela de campo de fundo. Se a estrela que actua como uma lente tem um planeta em órbita, esse planeta pode contribuir de forma detectável ao efeito de brilho provocado na estrela de fundo.
Jean-Philippe Beaulieu (Institut d’Astrophysique de Paris), líder da rede PLANET acrescenta: ”A rede PLANET foi fundada para seguir os efeitos de microlente que se mostravam promissores, com uma rede de telescópios em todo o mundo, situados no hemisfério sul, desde a Austrália e África do Sul até ao Chile. Os telescópios do ESO contribuíram de forma significativa para estes rastreios.”
As microlentes gravitacionais são uma ferramenta poderosa, com o potencial de conseguirem detectar exoplanetas que não poderiam ser descobertos de outro modo. No entanto, é necessário o alinhamento, bastante raro, entre a estrela de fundo e a estrela que actua como lente para que possamos observar este evento. E para descobrir um planeta é preciso ainda que a órbita do planeta se encontre igualmente alinhada com a das estrelas, o que é ainda mais raro.
Embora encontrar um planeta por meio de microlente esteja longe de ser uma tarefa fácil, nos seis anos de procura utilizando dados de microlente para a análise, três exoplanetas foram efectivamente detectados nas buscas PLANET e OGLE: uma Super-Terra (planeta com uma massa entre duas a dez vezes a da Terra) e planetas com massas comparáveis à de Neptuno e de Júpiter. Em termos de microlente este é um resultado excepcional. Ao detectar três planetas, ou os astrónomos tiveram imensa sorte e acertaram no jackpot apesar da baixa probabilidade, ou os planetas são tão abundantes na Via Láctea que este resultado era praticamente inevitável
Os astrónomos combinaram seguidamente a informação sobre os três exoplanetas detectados com sete anteriores detecções e com um enorme número de não-detecções durante os seis anos do trabalho. A conclusão foi que uma em cada seis estrelas estudadas possui um planeta com massa semelhante à de Júpiter, metade têm planetas com a massa de Neptuno e dois terços têm Super-Terras. O rastreio era muito sensível a planetas situados entre 75 milhões de quilómetros e 1.5 mil milhões de quilómetros de distância às suas estrelas (no Sistema Solar estes valores correspondem a todos os planetas entre Vénus e Saturno) e com massas que vão desde cinco massas terrestres até dez massas de Júpiter.
A combinação destes resultados sugere que o número médio de planetas em torno de uma estrela seja maior que um. Ou seja, os planetas serão a regra e não a excepção.
“Anteriormente pensava-se que a Terra seria única na nossa Galáxia. Mas agora parece que literalmente milhares de milhões de planetas com massas semelhantes à da Terra orbitam estrelas da Via Láctea,” conclui Daniel Kubas, co-autor do artigo científico.
Comunicado de imprensa da ESO
Este trabalho foi apresentado no artigo científico, “One or more bound planets per Milky Way star from microlensing observations”, por A. Cassan et al., no número de 12 de Janeiro de 2012 da revista Nature.
[*1] A missão Kepler está a descobrir um número enorme de candidatos a exoplanetas, os quais não se encontram incluídos neste número.[*2] Sigla do inglês “Probing Lensing Anomalies NETwork”. Mais de metade dos dados do rastreio PLANET utilizados neste estudo foram obtidos com o telescópio dinamarquês de 1.54 metros instalado no Observatório de La Silla do ESO./ OGLE: Sigla do inglês “Optical Gravitational Lensing Experiment”.
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