A narração e o enredo são raros em Portugal, porque implicam a colocação das personagens num espaço concreto, num cenário social, cultural e político. Ou seja, um enredo implica um certo retrato da realidade. E esse é precisamenteo problema: a ficção portuguesa tem alergia à realidade portuguesa. É como se os portugueses fossem indignos de aparecer na prosa supina dos nossos oráculos literários. Lemos romances portugueses, mas não vemos lá dentro os portugueses, não sentimos lá dentro o cheiro e o pó do Portugal de hoje ou dos Portugais do passado. Onde estão os frescos sobre a Lisboa dos anos 2000? Onde estão os romances sobre os subúrbios?(...)"
Henrique Raposo
(artigo "J. Rentes de Carvalho, o inesperado biógrafo de Portugal", in revista "LER" n°104, Julho/Agosto de 2011)
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