sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Rentrée: agitar antes de usar!

A rentrée promete ser agitada. E não só a rentrée política.

1- Há algo de podre no reino do Luxemburgo! Muitos querem perceber que história é essa de investir o dinheiro das reformas dos cidadãos do Grão-Ducado em empresas da indústria militar americana! Hã?... Importa-se de repetir?

Leu bem. Em plena quietude de um tranquilo Agosto luxemburguês, o deputado André Hoffman, da "Déi Lénk", foi descobrir esta maçã podre nos pratos habitualmente limpos do Luxemburgo. Numa questão parlamentar, Hoffmann interpela os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Segurança Social recordando-lhes que o Estado luxemburguês ratificou em 2009 a convenção internacional contra o fabrico e uso de bombas de fragmentação que essas empresas produzem. O presidente do Fundo de Compensação da Segurança Social, organismo ao qual as acções nessas empresas pertencem, veio afirmar ao diário "Le Quotidien" desconhecer qualquer ligação da instituição com esses fabricantes de bombas e prometeu "corrigir" o investimento.

O facto de a questão ter surgido na pausa estival fez com que poucos jornais pegassem (ou ousassem pegar) no assunto. As reacções não se fizeram (ainda) sentir. Em qualquer outro país teria havido imediatas consequências políticas. No mínimo, os cidadãos teriam questionado: será que o presidente do Fundo podia não saber onde eram investidas as acções? Podia! Podia, mas não devia.

2- A França expulsou em 15 dias quase um milhar de ciganos ilegais para a Roménia, sob duras críticas nacionais e internacionais. O Vaticano considerou a atitude francesa "uma espécie de novo holocausto”. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, ameaçou demitir-se face às expulsões, mas acabou por dizer que, afinal, fica "para não desertar". Antes de se "sarkozizar", Kouchner foi um respeitável defensor dos direitos humanos. E eu que pensava que ele tinha aceite fazer parte do governo francês como um cavalo de Tróia para agir, precisamente, quando o menino Nicolas fosse assolado por este tipo de "xenófobices". E se a França tivesse expulsado nos anos 1950 o pai de Sarkozy de volta para a Hungria?

Bruxelas lavou daí as mãos, sacando de um "isso são assuntos da exclusiva competência das autoridades nacionais". Cláusulas destas dão sempre jeito num casamento a 27, que já esteve mais longe do divórcio. A luxemburguesa Viviane Reding, comissária europeia da justiça, dos direitos fundamentais e da cidadania, veio recordar a Paris o direito à livre circulação de pessoas na UE, espaço onde não se expulsam pessoas só por serem de certas etnias. Indignou-se, mas a coisa ficou por aí.

Em casa de ferreiro, espeto de pau! Nunca até agora Vivane Reding teve nada a apontar às expulsões perpetradas pelo Luxemburgo, cerca de três dezenas desde o princípio do ano. Será por se tratarem de cidadãos de países terceiros? Alguns têm aqui uma vida estabelecida, um trabalho, as crianças escolarizadas, como é o caso de uma família sérvia, que após sete anos no país se arrisca a ser expulsa esta semana com os filhos. O caso foi denunciado na segunda-feira pela ASTI.

O Luxemburgo age alheio à "polémica cigana" em França, até porque não tem que se preocupar com esse assunto até 2012. No ano passado, o Governo luxemburguês decidiu alargar por mais três anos o prazo para que romenos e húngaros possam residir no país.

3- Os alunos e os professores de Português chegam ao Luxemburgo, refeitos após umas merecidas férias, para descobrir que há uma nova coordenadora do Ensino. A anterior não teve tempo para aquecer o lugar. Fontes oficiais desmentem que a decisão esteja relacionada com os desentendimentos que Ana Costa teve com alguns docentes e até com o sindicato dos professores. A verdade é que a medida foi decidida por Lisboa e afecta os coordenadores de toda a Europa. A nova coordenadora entra hoje em funções, mas ainda não chegou. Nem se sabe quando e se chegará. Porque uma das novidades é que a coordenadora passará a ser responsável pelo ensino em todo o Benelux, não se sabendo se virá ou não para o Grão-Ducado.

Com o regresso às aulas mesmo à porta, tanta coisa por organizar e decidir, professores por colocar... Quem resolve? Perguntem a Lisboa.

Mas há outros assuntos fracturantes que vão agitar as águas. No Luxemburgo: a reforma da segurança social, a indexação automática dos salários, a mega-manifestação marcada para 16 de Setembro para protestar contra as restrições dos abonos de família aos trabalhadores fronteiriços por parte do Governo luxemburguês. Em Portugal: a desnecessária reforma da constituição, desejada pelo PSD, e, claro, a corrida para as presidenciais. Dar cavaco a Cavaco?

José Luís Correia
(in Contacto, 01.09.2010)

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