sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um Luxemburgo sem Juncker?

Hoje há "eleições presidenciais" da União Europeia mas nós, meros cidadãos, não podemos votar.

No Luxemburgo, sente-se um fervoroso apoio para que Juncker venha a ocupar esse posto. Por orgulho nacional. Porque entrará na história.

Mas a minha pergunta é: ok, e se for mesmo ele a ser o nomeado... quem o substitui nas rédeas do país?

Frieden, Biltgen? Qual destes dois homens está o melhor preparado para ser o digno sucessor?

Frieden é considerado demasiado grave e reservado. Mas dizem-no eficaz naquilo que faz. Talvez por isso seja bem mais popular que Biltgen junto dos luxemburgueses.

Biltgen é considerado um político com uma carreira política linear, sem grandes atritos. É mais extrovertido e com um trato mais popular do que Frieden. Junto dos estrangeiros, e nomeadamente dos portugueses, é o preferido, talvez por ter sido durante alguns anos presidente da associação Amizade Portugal-Luxemburgo (APL) e de ter assim lidado com a comunidade portuguesa, com quem também já tinha tido largos contactos na sua cidade, Esch/Alzette.

Só vendo em que direcção o sucessor de Juncker levará o país, é que se descobrirá se Juncker era afinal o tal super-homem político que todos, ainda hoje, dizem ser.

Só a partir daí é que se verá se estes longos anos de estabilidade económica e sociopolítica se deveram aos esforços de um só homem ou de um conjunto, se isso marca um passo histórico para a Europa, mas o descalabro para o Luxemburgo.

Sem lhe atribuir poderes messiánicos, a verdade é que a opinião pública no Luxemburgo considerava que só Juncker tinha carácter, calaboiço e dimensão para chefiar o país. E dentro do partido cristão-social CSV, esse quasi-messianismo ainda é mais verdade.

O CSV sabe pertinentemente que Juncker sempre foi maior que o próprio partido. Quantas vezes Juncker não propôs políticas a contra-corrente do partido, como a lei da dupla-nacionalidade, por exemplo, para citar apenas esta, e o partido foi obrigado, por arrasto, a transformar-se de opositor em protagonista.

O CSV sabe também que deve as últimas eleições um só homem. Caso Juncker tivesse partido para Bruxelas em 2004, quando foi proposto para presidente da Comissão Europeia (só depois de Juncker recusar é que foi proposto o nome de Durão Barroso!), os analistas políticos luxemburgueses conjecturavam que o CSV estaria condenado a perder as eleições de 2005. E quem sabe depois disso o que teria acontecido nas eleições de 2009.

Na altura, recorde-se, Juncker teve que literalmente prometer na campanha eleitoral que não trocaria o Luxemburgo por Bruxelas. Pelo menos, durante aquela legislatura. E o partido voltou a vencer, apesar de estar há 30 anos no poder.

E em 2005, os luxemburgueses só votaram no referendo a favor da Constituição Europeia para não perder Juncker, que havia ameaçado demitir-se se o texto não fosse aprovado pela população do Grão-Ducado.

Será Juncker o candidato perfeito para ser o primeiro presidente permanente da UE. É indiscutivelmente um cargo pelo qual ele ambiciona há muito.

Mas, para mim, pelo menos, o Luxemburgo pós-Juncker é uma grande incógnita. Maior do que qualquer partido ou político nacional poderia admitir publicamente.

Depois de Juncker, o dilúvio?

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