sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Crítica de teatro

Teatro: Peça "Com pêlo do mesmo gato", no Castelo de Bettembourg

O mote, o dote e a deixa


Com o mote "Com pêlo do mesmo gato", o Centro Dramático de Viana do Castelo trouxe a peça do mesmo nome à sala de festas do Castelo de Bettembourg, no sábado.

Baseado na peça "Similia, Similibus", de Júlio Dinis (1839-1871), o mote da peça "Com pêlo do mesmo gato", trazido pelo Centro Dramático de Viana do Castelo, no passado sábado, à Sala de Festas do Castelo de Bettembourg, e que vai sendo repetido insistentemente durante todas as cenas, é um velho adágio latino professado por Paracelso (1493-1541). Este acreditava que "semelhante cura semelhante" ("similia similibus curantur").

A história faz-nos viajar até ao ano de 1857. Uma família da alta burguesia portuguesa tem uma filha donzela (Sílvia Santos) de 18 anos por casar. O noivo e primo (Ricardo Simões) está a terminar a formatura em Direito na Universidade de Coimbra. Mais versado em botequins e namoros do que em leis e fidelidades, quando este regressa para casar, o pai da noiva (Tiago Fernandes), furioso com os excessos do sobrinho, decide uni-la com um homeopata (Jorge Filgueiras) que o anda a curar com "copinhos de água", um charlatão mais interessado no dote e na criada (Francisca Lima) do que na virtude intacta da menina rica.

Ainda a meio da primeira cena, o ano de 1857 mistura-se com 2007. O espectador entra na comédia da comédia e é convidado a assistir ao ensaio geral da peça, às peripécias e nervos dos actores em véspera de estreia. O noivo garboso é afinal interpretado por um actor efeminado que não consegue beijar a jovem actriz que desempenha a donzela, uma miúda modernaça e com pouca pachorra para mariquices. Mas lá está a Dona Beta (Elisabete Pinto), a actriz principal e "chefona" do grupo de teatro, para pôr ordem em tudo. "The show must go on!" (o espectáculo tem que continuar!), exclama a "grande actriz" em extâse devoto.

O público, primeiro surpreendido pela volta dada ao texto de Júlio Dinis, deixa-se seduzir muito rapidamente, adere, ri e aplaude. A prova de que o público português no Luxemburgo também gosta de teatro se souber ser seduzido por este.

A ideia de promover este serão cultural nasceu de Orlando Pinto, proprietário da Sopinor, empresa de construção criada no ano de 2002, em Bettembourg. O empresário conta que cada vez que vai de férias a Portugal, a irmã, Elisabete Pinto, o convida sempre para ir ver as suas peças. "A vontade de trazer ao Luxemburgo o grupo de teatro em que ela trabalha existia há muito, mas só agora foi possível concretizá-la!", diz. Um investimento de seis mil euros que "valeu a pena", já que a sala, com capacidade para 280 pessoas, estava praticamente cheia. "Considerando que no dia da peça muitos portugueses ainda não tinham regressado de Portugal e tendo em conta que era um serão de futebol" (n.d.R.: o jogo Portugal-Polónia para as eliminatórias do Europeu de 2008 teve lugar nessa noite), "estou muito contente pela afluência do público", confiou Orlando Pinto, que não exclui a eventualidade de voltar a trazer a companhia ao Grão-Ducado (ver também o artigo em caixa).

José Luís Correia, in Contacto ,12.09.07

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