sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 1 de março de 2007

Fuga do Penitenciário de Schrassig

"Prison Break"

A verdadeira identidade do Superhomem parecia finalmente ter sido descoberta. Afinal, não era o Clark Kent! O novo homem de aço vivia muito mais perto: aqui mesmo, no Luxemburgo!

Era o que se podia pensar ouvindo a descrição que o ministro da Justiça, Luc Frieden, ainda visivelmente transtornado sob o efeito surpresa, fez da evasão de Nuka Kujtim, com tantos superlativos que apenas um ser com superpoderes podia ter escapado daquela prisão, voando por cima de muros de seis metros e vedações com arame farpado, subtraindo-se à atenção dos guardas e da vigilância das câmaras. O traficante de droga de origem albanesa teria seguido um treino militar especial no seu país, argumentou o ministro. Mesmo assim, seis metros! Mas se não é o Superhomem, terá o Nuka querido armar-se em Bubka e bater o recorde de salto à vara que este detém? Mas permanecia a pergunta: a vara, onde a teria adquirido? Na prisão? Encomendou-a por telemóvel? Comprou-a em troca de produtos ilícitos? Não, afinal, como todos sabemos, essas coisas não entram em Schrassig!

De lá só se sai... pela porta! É o que parece ter acontecido com Nuka, segundo adianta o "Quotidien", na edição de 24 de Fevereiro. Este teria aproveitado uma porta aberta e uma briga armada pelos outros detidos para se escapar.

Pela porta ou por cima do muro, as câmaras não filmaram a façanha? Estava muito nevoeiro nessa manhã? Talvez o recluso tenha inclusive consultado a meteorologia pelo telemóvel, antes de se evadir?

Esta fabulosa evasão, de fazer inveja aos reclusos da série "Prison Break", deixa muitas perguntas em aberto: porque respondeu o ministro tão atrapalhadamente aos jornalistas, sem estar devidamente preparado e informado de como ocorreu a fuga; porque razão as autoridades esperaram várias horas para transmitir os dados e a fotografia do fugitivo à imprensa, para que esta pudesse fazer seguir as informações para o público; para que servem câmaras de vigilância numa cidade, como defende Frieden, se as de Schrassig não serviram para evitar a evasão de um presumível perigoso criminoso? E porque razão o ministro não se exprime sobre o assunto há mais de uma semana?

Espera-se com suspense a sua intervenção nesta quarta-feira, diante da Comissão Jurídica do Parlamento, para mais alguns pormenores.

O deputado liberal Xavier Bettel chegou a sugerir a demissão de Frieden, "que é o que teria feito noutro país um ministro na sua situação", evocando assim as várias polémicas que o ministro da Justiça teve já de enfrentar em relação àquele centro penitenciário: o uso de telemóveis pelos presidiários, o tráfico de estupefacientes, os suicídios de detidos, entre outros.

Como estamos no Luxemburgo, o epílogo da grande evasão foi feliz... para as autoridades. O fugitivo foi apanhado depois de ter andado 15 horas a monte. Num país onde o sentido cívico de alguns extremosos cidadãos os leva a chamar a polícia por um carro mal estacionado à frente da porta de casa, como podia um recluso com cara de "bandido" escapar às atenções?

Ou seja, tudo está bem quando acaba bem. O Superhomem ainda é o Clark Kent e o Luxemburgo continua a ser aquilo que sempre foi.

José Luís Correia (in Contacto, 01.03.07)













No Luxemburgo, estes gajos não tinham a mínima hipótese de escapar!

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