sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Cow Parade Lisboa 2006: As vacas saíram à rua num dia assim

Fotos: José Luís Correia
Uma estranha transumância, invasão de bovinos mutantes ou uma vacada que escapou do novo Campo Pequeno?

Os lisboetas interrogam-se sobre as vacas bizarras à solta, desde 13 de Maio, pelas ruas, avenidas, praças e pracetas da capital portuguesa. Mas estas não mugem, nem tugem. Nem incomodam ninguém. Muito pelo contrário, divertem os passantes, atraem as crianças e interpelam até o turista menos incauto. Impassíveis e serenas, apesar das suas vestimentas e aparatos coloridos e excêntricos, pastam nas pedras da calçada das sete colinas como se de uma deliciosa e verdejante pradaria se tratasse, alheias aos olhares curiosos, ao vai-vém dos transeuntes e até ao chinfrim poluente dos automóveis.

Sob a denominação de "Cow Parade - Lisboa 2006", a manada insólita coloca Portugal no mapa das já célebres manifestações de arte pública com vacas que estiveram patentes em cidades como Chicago, Nova Iorque (EUA), Praga (República Checa), Barcelona (Espanha), Bruxelas (Bélgica), Estocolmo (Suécia), Tóquio (Japão) e São Paulo (Brasil), entre muitas outras.

A ideia nasceu em Zurique em 1998 e estendeu-se praticamente às cidades dos quatro cantos do planeta. Aqui no Luxemburgo,m recorde-se, adoptou o nome de "Art on Cows" (Arte nas Vacas) e coloriu a capital luxemburguesa no Verão de 2000.

A par de Lisboa, onde o evento decorre até Setembro, este ano a exposição acontece igualmente nas cidades europeias de Paris (França) e Edimburgo (Escócia). Do outro lado do Atlântico, em Boston, Denver (EUA) e Belo Horizonte (Brasil). Tendo passado por mais de 25 cidades em todo o mundo, a “Cow Parade” pintou já mais de quatro mil vacas.

Quem pintou a manta às vacas? 



As 101 esculturas bovinas em fibra de vidro e tamanho real foram decoradas e pintadas por artistas locais. Quase sempre com cores berrantes ou psicadélicas, às florzinhas, às listas, às riscas, às pintas, malhadas (tresmalhadas?), aos quadradinhos... de chocolate, com chapéus, luvas de boxe e até camisa com mangas-balão. O bovino que arbora esta renascentista vestimenta responde pelo nome de “Vacamões” e protege com “mão de vaca” o épico poema, pomposamente semi-deitado à entrada da rua do Carmo.

Não confundir com a “Cow-mões”, que conversa, em amena cavaqueira mas surda aos humanos ouvidos, com o seu colega Chiado, no largo do mesmo nome, lugar de artistas, escritores e poetas. Os outros utentes da via pública, engraxadores e cauteleiros que tais, que se acautelem eles também, pois as vacas apoderaram-se igualmente das esplanadas e parques da "cidade branca".

Mesmo os taxistas lisboetas acusam a concorrência nas bandeiradas da “Vaca Táxi”, colocada junto à Praça do Saldanha. Passeando por Lisboa, podem descobrir-se outras vacas fabulosas.

Há as tipicamente portugueses, como a “Vacabarcelos” (Amoreiras), a “Vaca Calçada Portuguesa” (Praça do Município) ou a “Portucow” (Rossio), que veste o lombo com as quinas. As “tecnológicas”, como a “Cowpyright” (Campo Pequeno) e a “CowPuter” (Gare do Oriente). E as francamente extravagantes, como a “Vaca Ilha da Madeira” (Centro Comercial do Colombo), a “Blue Cow” (Estação de Entrecampos), a “Vaca Alada” (Parque das Nações) ou a “Cândida Charneca”, junto ao Marquês de Pombal, que se improvisa do alto palanque em pastor providencial de gado grosso.

Após a exposição, em Setembro, as vacas serão vendidas em leilão público a 30 desse mês, revertendo o valor, distribuído através do Mecenato.net, para a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), a Assistência Médica Internacional (AMI), a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o "Chapitô", Cruz Vermelha Portuguesa, Espaço T, Escuteiros de Portugal, Liga dos Bombeiros Portugueses e projectos da SIC Esperança.

José Luís Correia, em Lisboa 
in CONTACTO, 31/05/2006

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