Carlos Gonçalves (à direita), entrevistado pelo nosso redactor José Luís Correia Foto: Á. Cruz
O cabeça-de-lista do Partido Social-Democrata (PSD) pelo Círculo da Europa, Carlos Gonçalves, vai estar esta noite, pelas 20h30, no Foyer Européen, rue Heine, na capital, para a apresentação do Programa do Partido para as Eleições Legislativas do próximo dia 17 de Março, em Portugal.
O CONTACTO teve já oportunidade de falar com Carlos Gonçalves sobre a sua candidatura.
Carlos Gonçalves tem 40 anos, é Técnico de Serviço Social e Cultural em Nogent-sur-Marne (França). É natural de Sarnadas de Rodão (Vila Velha de Rodão, Castelo Branco). Gonçalves é licenciado em Geografia pela Universidade de Paris X e Secretário-Geral Adjunto do Sindicato dos Trabalhadores Consulares e das Missões Diplomáticas no Estrangeiro (STCDE).
Da sua candidatura disse-nos que é uma novidade o facto do PSD apresentar a um lugar de deputado na Assembleia da República um cabeça de lista pela Europa que seja da Emigração.
"Eu sou um quadro político da Emigração, vivo há 20 anos em França, os meus pais são emigrantes, os meus filhos têm as duas nacionalidades. Eu sou alguém que fiz vida e política nas Comunidades. Não quero dizer que eu seja melhor que os outros, mas acho que sendo eu alguém das Comunidades, sou mais sensível a algumas matérias que os outros. Acho que é algo de novo e que vem contrariar tudo o que tem sido feito em Portugal nesta matéria, até pelo meu Partido. Isto é um sinal de querer mudar. É querer ver as Comunidades Portuguesas como um complemento importante para o nosso país" começou por dizer.
CONT.: Pode considerar-se que passou pelo Luxemburgo em campanha?
Carlos Gonçalves: Eu acho que a campanha se faz pelo trabalho que se teve oportunidade de fazer, durante os últimos tempos. Não vim agora, próximo do acto eleitoral, tentar descobrir quais são os problemas da Comunidade Portuguesa do Luxemburgo. Fizemo-lo atempadamente, já que estabelecemos um programa de trabalho, desde 1999, com o Presidente do meu Partido, de ouvir a estrutura do PSD e a estrutura do Luxemburgo. Viemos várias vezes ao Luxemburgo aquilatar a verdadeira situação da nossa comunidade e, depois, fazer o programa que corresponda não só às necessidades particulares do Luxemburgo, mas no que diz respeito ao conjunto das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo Mundo. Acho que temos propostas que são verdadeiras reformas, reformas profundas. Por exemplo, a criação de um Ministro Adjunto das Comunidades, que terá a tutela do apoio às associações portuguesas, o apoio cultural, os Consulados na parte não-diplomática, o Ensino do Português no Estrangeiro, a Comunicação Social.
CONT.: Na sua óptica, quais são os principais problemas das Comunidades Portuguesas no Estrangeiro?
C. G: O problema das Comunidades Portuguesas é que não temos peso político e tem ficado tudo na mesma, e isto já há muitos anos. O Dr. Durão Barroso e nós achamos que era altura do país virar-se para as Comunidades, perceber que a nossa única matéria prima é o material humano. As Comunidades Portuguesas são 4 milhões de pessoas com um potencial técnico, económico, empresarial e cultural invejável e temos que o aproveitar. O nosso projecto é reformista, queremos alterar tudo isto e damos uma possibilidade aos Portugueses, que aqui estão, de participar cada vez mais na vida política portuguesa, a possibilidade de votar nas Autárquicas e nas Juntas de Freguesia em Portugal, de forma a que os Portugueses tenham mais razões para participar. Estamos com uma situação de poucos recenseados, uma Comunidade pouco participativa no plano cívico. Uns dos grandes culpados de tudo isso somos nós, os políticos, os diferentes governos, os diferentes reponsáveis na área das Comunidades que não responderam às reais necessidades das Comunidades Portuguesas. Verificou-se um afastamento dessas Comunidades em relação ao poder político. Temos que inverter as coisas. O nosso projecto vai permitir aos Portugueses ter alguma pressão e peso político junto da entidade portuguesa que mais contactam, a Câmara Municipal. Há muitos emigrantes que se queixam que o facto de estarem no estrangeiro, o facto de não votarem faz com que muitos autarcas não tomem em consideração os emigrantes.
CONT.: Não acha incompatível votar nas Autárquicas em Portugal e nas "Comunais" no Luxemburgo? E como sensibilizar as Comunidades para isso, quando já há tão poucos Portugueses recenseados e mesmo entre os inscritos nos cadernos eleitorais, são poucos os que vão votar...
C. G.: Acho que uma coisa pode servir a outra. As pessoas têm que perceber onde é que têm interesses localmente. Em Portugal, quantas autarquias devem o grau de desenvolvimento aos emigrantes? Depois, as decisões que são tomadas nas cúpulas das Câmaras nada têm a ver com os emigrantes. Os emigrantes com a sua participação económica, com investimento local, fazem crescer as suas Freguesias e Concelhos e depois nas decisões da Assembleia Municipal, a política municipal nunca é feita de acordo com os interesses das nossas Comunidades. Temos Câmaras Municpais que devem tudo aos emigrantes, mas não têm nem um só serviço de apoio, de colaboração, de enquadramento em relação às nossas Comunidades. Se os Portugueses entenderem que a participação em Portugal lhes pode trazer ganhos, vão recensear-se no Consulado. O problema da participação cívica tem a ver, muitas vezes, com a consciência que nós temos da importância de participar. O que falta nas Comunidades Portuguesas é razões para ir votar. Não tem havido atractivos, para os Portugueses no estrangeiro, irem votar. Este poderá ser um atractivo importante.
José Luís Correia
(excerto da entrevista publicada no CONTACTO, 01/03/2002)
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