sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

domingo, 31 de outubro de 2010

Em Mamer, Cultura escreve-se com K



"Pompa e cirscuntância, marcha n°1 ", de Edgar Elgar foi uma das músicas que me fez viajar ontem até um serão dos anos 80 em que aterrorizado descobri esse ovni que é a "Laranja Mecânica" de Kubrik.

Já não ia a um concerto de música clássica desde Maio de 2008, quando estive na Beethovenhalle, em Bona, para assistir à actuação da West-Eastern Divan Orchestra, dirigida por Daniel Barenboim, projecto composto por judeus e árabes e que visa promover a paz no Médio Oriente, através da música clássica.

Ontem, no novo Centro Cultural de Mamer, o Kinneksbond, para a inauguração oficial, a lotação estava esgotada para ouvir a Harmonie Gemeng Mamer (HGM), que teve as honras de estrear a sala.

Além da famosa composição de Elgar (com arranjos de Henk von Lijnschooten), a HGM viajou pela "Finlandia" de Sibelius, o concerto para trompete, 1°movimento de Johann N. Hummel, a Thaïs, de Massenet, e pela "Viúva Alegre", de Lehar, entre outros.

Os meus momentos preferidos

Gostei de descobrir o "Japanese Tune" de Soichi Konagaya, dos arranjos (de Somadossi) que fizeram à música "Innuendo" dos Queen, e da composição original de um jovem músico local, Marco Batistella Jr, feito especialmente para a orquestra HGM e que se intitula "HGM", pegando nas notas que as letras representam. A HGM desvendou ainda uma das canções de um dos projectos que anda a preparar para 2011, a ópera rock "Jesus Christ Superstar" (1971), de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber.

Gostei também que cedessem um lugar à coral de crianças da cidade, que interpretaram "Another Brick in The Wall", dos Pink Floyd. Embora com um arranjo a meu ver péssimo, de R. Fienga (whoever he is!), que detestei, o empenho e a dedicação com que os miúdos cantavam o "Hey, teacher, leave the kids alone", salvou a canção.

Mas para mim, os dois pontos altos da noite foram a canção "Ich gehör nur mir" do musical "Elisabeth" (sobre a imperatriz Sissi), magnificamente interpretada pela jovem soprano luxemburguesa Patricia Freres, dona de uma lindíssima voz; e o momento em que um escocês, de kilt a rigor e de gaita de foles ao ombro, invadiu a sala e se fez acompanhar pela orquestra, num "grande finale" à altura da inauguração da sala de espectáculos a que assistíamos.

Uma sala com uma acústica invejável e que respondeu às expectativas e aos desafios da estreia. O centro é líndissimo, com linhas simples e despojadas, um hall (foyer) amplo e de cores quentes e acolhedoras. O adro dianteiro é amplo e declina-se em escadaria e fonte luminosa, onde imaguino bem uma esplanada agradável no Verão. Por falar em Verão, o palco abre-se nas traseiras sobre um anfiteatro a céu aberto para uma centena de pessoas. Uma bela ideia, que fica à mercê da caprichosa e imprevisível meteorologia luxemburguesa.

Foi uma excelente noite. Não estava nada à espera de gostar tanto..., sei lá, quando me disseram que quem ia fazer a abertura era a fanfarra lá da terrazinha.

Afinal, é caso para dizer que em Mamer Cultura também se escreve com K. De "Kinneksbond", um centro de cultura que não teme fazer "a espargata cultural" entre a arte mais clássica (teatro, concertos clássicos, óperas, operetas, etc.) e alternativas menos consensuais, como composições orientais e óperas rock.

O concerto de ontem à noite mostrou acima de tudo, a meu ver, o que os responsáveis querem fazer deste novo pólo: um lugar onde os estilos se cruzam e mesclam, com uma única preocupação, a re-criação, a re-invenção permanente da(s) arte(s), como uma das disciplinas por excelência que sublimam a existência e o próprio homem.

José Luís Correia, aka, A.G. Weytjens
11h24, 31 de Outubro de 2010

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