sebenta de anotações esparsas, pensamentos ociosos, reflexões cadentes, poemas difusos, introspecções de uma filosofia mais ou menos opaca dos meus dias (ou + reminiscências melómanas, translúcidas, intra e extra-sensoriais, erógenas, esquizofrénicas ou obsessivas dos meus dias)
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cahier de notes éparses, pensées oisives, réflexions filantes, poèmes diffus, introspections d'une philosophie plus ou moins opaque de mes journées (ou + de réminiscences mélomanes, translucides, intra-sensorielles et extra-sensorielles, érogènes, schizophrènes ou obsessionnelles de mes journées)

sexta-feira, 29 de julho de 2005

Madredeus é "uma fantasia musical de raiz portuguesa", diz Pedro Ayres Magalhães

Fotos: Paulo Lobo
Formaram-se no final de 1986 e da formação original com Rodrigo Leão (Vox Ensemble), Gabriel Gomes (Sétima Legião) e Francisco Ribeiro restam apenas Pedro Ayres Magalhães (ex-Heróis do Mar) e Teresa Salgueiro, hoje acompanhados por Fernando Júdice (ex-Trovante), José Peixoto e Carlos Maria Trindade (ex-Heróis do Mar).

Hoje são um dos expoentes máximos da música portuguesa e os melhores embaixadores de Portugal no estrangeiro, com a sua música à qual se rendem multidões em países espalhados nos quatro cantos do mundo. Passaram, na última sexta-feira, dia 21 de Julho, por Wiltz, para participar no "Festival de Música e Teatro" daquela cidade. Era a terceira vez que vinham ao Luxemburgo. E, mais uma vez, valeu a pena.

Valeu a pena ir até Wiltz e ver aquele ambiente de pequena cidade rústica, no meio de montes e vales verdejantes que já conhecemos, sublimado pela primorosa música dos Madredeus e pela magnífica voz de Teresa Salgueiro, que a todos encantou.

O espectáculo começou eram 21 horas, ainda o sol banhava Wiltz com uma média luz. O crepúsculo caía e também a música dos Madredeus se ia tornando mais intimista e mais próxima do público. Este, na sua maior parte composto por luxemburgueses (notavam-se também muitos portugueses, claro!), rendia-se de corpo e alma à voz doce de Teresa Salgueiro.

No final, o grupo não pôde sair de palco sem um "bis" obrigatório e mereceu uma "standing ovation" (ovação de pé) emocionante. Depois do concerto, a organização do Festival convidou uma pequena comitiva para uma recepção com o grupo. Entre conversas de admiradores e autógrafos, o CONTACTO conseguiu falar com Teresa Salgueiro, Pedro Ayres Magalhães e Carlos Maria Trindade.

Uma das perguntas que fizemos aos três foi como definiam o seu som, questão que tem atormentado muitos críticos de música quando tentam "rotular" o género de música interpretada pelos Madredeus. Como se fossem preciso "rótulos" ou denominações para classificar esta música e os Madredeus! Os Madredeus de quem Miguel Esteves Cardoso disse (em 1987), muito antes de ter chegado a hora da consagração nacional e internacional, que esta era a melhor esperança da nação e esta música "um dos géneros da verdade".

"Uma música dedicada à língua portuguesa" 

CONT: Esta é a terceira vez que vêm ao Luxemburgo. Foi bom voltar a vir actuar cá? 

Teresa Salgueiro: Já há alguns anos que não vinhamos ao Luxemburgo. Das outras duas vezes que viemos foi em situações muito diferentes e o lugar em que tocámos não era tão agradável. Desta vez, o cenário era mais propício, estava algum frio, mas penso que as pessoas gostaram e apreciaram a música com muita atenção. Eu, pessoalmente, gostei muito de cá estar. Vivi esta terceira passagem por aqui com alegria, mas esta é uma visita muito breve, porque amanhã já vamos embora.

CONT.: Este concerto no Luxemburgo fez parte de uma digressão mais larga pela Europa? 

T. S.: Sim, estamos a meio de uma viagem. Chegámos aqui vindos de Roma, fizemos seis concertos em Espanha, e do Luxemburgo seguimos para a Croácia. Depois da Croácia vamos fazer o último concerto da digressão espanhola, a Santiago de Compostela e por fim estaremos em Londres, no dia 30 de Julho. Daí seguimos para Lisboa. Este concerto foi estreado em Paris, passámos ainda por Bruxelas, Belgrado, Antuérpia (Anvers), Jerusalém, Telaviv, Berlim, Hanôver. Em Agosto vamos pela primeira vez fazer um mês de férias, algo que nunca conseguimos fazer nestes dez anos de viagem. Depois do mês de Agosto vamos ao Brasil (Manaus), México, Argentina, Finlândia. Em Novembro e Dezembro está prevista uma digressão em Itália.

CONT.: Como explica este sucesso internacional dos Madredeus? 

T. S.: Não me compete a mim explicar este sucesso, cabe ao público. Mas penso que as pessoas gostam do estilo original de música que criámos. Acho que se nota também o gosto que temos em fazer concertos e estas grandes viagens que temos feito com a nossa música é que nos têm merecido o entusiasmo do público em tantos países diferentes. Penso que o público aprecia o ambiente particular que se estabelece, acho que temos uma música muito transparente, com que as pessoas se identificam. Temos viajado muito, as pessoas já nos conhecem e voltam a ver-nos e nós também queremos voltar a vê-las e retribuir-lhes o interesse e o entusiasmo que nos dão, com novas músicas.

CONT.: Daí neste concerto terem apresentado muitas novas canções... 

T.S.: Este é o concerto que preparámos e que estamos a apresentar este ano. Gravámos um disco no início deste ano, o ano passado foi preenchido por uma digressão com muitos temas conhecidos. Este ano, optámos por apresentar novas músicas. Se por um lado as pessoas podem gostar de ouvir músicas antigas, penso que gostam de saber da criatividade e vontade que os músicos têm de responder ao seu entusiasmo com novas criações. Eu, pessoalmente, gosto muito das canções novas.

CONT.: Como é que define a música dos Madredeus? 

T. S.: Acho que é um estilo de música completamente original. É música portuguesa, dedicada à palavra, ao canto da língua portuguesa. É uma música que visita muitos ouros estilos, tem essa liberdade. Mas não encontro uma definição particular, não tenho um rótulo para lhe dar...

CONT.: Além dos Madredeus, pensa, no futuro, numa carreira a solo, ou em projectos diferentes? 

T. S.: Até ao fim do ano vou andar em viagens com os Madredeus. Para o ano, é lançado o nosso próximo disco. O trabalho com os Madredeus é muito intenso e tem sido, no fundo, a minha escola, tem sido através destas canções, que são feitas para mim, que tenho crescido e aprendido até que ponto é grande este meu gosto pela música. Há algumas coisas que eu gosto de cantar que não são Madredeus, como canções tradicionais. Gosto também muito de cantar fado, mas não sei se um dia se virá a justificar e se terei disponibilidade para fazer um trabalho. Gostaria de poder vir a fazê-lo, mas não tenho ainda nada de concreto previsto nesse sentido.

(cont. na pág. seguinte) 


"Uma orquestra de bolso" 

CONT: Como foi esta visita ao Luxemburgo, um país onde os esperam sempre muitos portugueses fãs do grupo? 

Pedro Ayres Magalhães: Foi muito boa, visto que tocámos no quadro de um festival como este e num sítio dedicado à Música, um local extraordinário. Nos concertos anteriores que demos aqui tocámos num pavilhão, onde não é tão aprazível tocar. O Luxemburgo tem esta particularidade de quando vimos cá, esperamos sempre a presença da comunidade portuguesa. Sente-se o entusiasmo e o ambiente, é por isso particular.

CONT: Como define o som dos Madredeus? 

P.A.M.: Essa é mais uma preocupação enciclopédica que eu não tenho muito. Por vezes pergunto-me se Madredeus é música clássica, se é fado? É, em todo o caso, uma música anti-académica, feita por estudantes de música, que toca influências vagas da música popular, do pop-rock, no fundo, da música contemporânea do nosso tempo. Procuramos criar um repertório para a poesia portuguesa cantada, bem como para a guitarra clássica, guitarra brasileira, guitarra portuguesa, guitarra flamenca, buzouki, harpa. Imaginamos o que podemos tocar com as nossas guitarras, o sintetizador e a voz da Teresa, tentando ser o mais criativos possível para explorar todas as potencialidades deste "ensemble". Quando cheguei aqui estava a perguntar-me se os luxemburgueses iam pensar que isto era mesmo fado ou não, enquanto que todos os portugueses sabem bem que isto não é fado. Para os portugueses Madredeus é Madredeus, ninguém precisa de explicações! O reportório dos Madredeus é uma tradução do fado, uma música feita inspirada nessa música de Lisboa, uma inspiração poética no feitio do fado. Cantamos inspirados na música de Lisboa, sem cantar a música de Lisboa! Eu gosto de chamar à música dos Madredeus: "uma fantasia musical de raiz potuguesa". Ou então "uma orquestra de bolso", porque afinal são apenas quatro músicos e uma voz.

CONT: Quando esta aventura começou em 1987, no antigo Convento da Madre de Deus, em Xabregas (zona oriental de Lisboa), imaginavam que poucos anos depois viriam a atingir este êxito internacional? 

PAM: Quando começámos queríamos apenas fazer música diferente. Decidimos que era música para uma voz feminina, que não havia de ter baterias, nem percussões, senão não se ouvia nada do que ela cantava. Queríamos explorar música do tipo "Madrigal", as canções alentejanas, o fado, as baladas pop-rock. Nessa altura não nos preocupava ser famosos, preocupava-nos criar um repertório. Depois a nossa preocupação foi gravar esse reportório e apresentá-lo ao vivo. Ao príncipio fazíamos 20 concertos por ano, era uma coisa amadora na nossa vida, um divertimento. Foi assim até 1991 em que fizemos a nossa primeira digressão em Portugal que foi um grande êxito. Começámos inclusive a receber convites do estrangeiro. As tantas tivemos que decidir se íamos ser profissionais ou não, e que isso implicaria a possibilidade da nossa música ser editada em todo o mundo. Evitámos sempre demasiada exposição na tv e na rádio, concentrámo-nos nos concertos e na construção do repertório, tentando melhorar a música, viajando com ela. Isto nunca foi previsível em nenhum momento. Neste momento o grupo é uma coisa revolucionária. Acabamos de vir de uma tournée de seis concertos em Espanha, onde os Madredeus com a sua pequena orquestra tocaram, como aqui, em espaços da melhor música que se faz no mundo. Isto nunca foi possível imaginar nesses primeiros anos.

CONT.: Para os admiradores da voz do Pedro Ayres Magalhães, saudosos desta dos tempos da Resistência, em que interpretava nomeadamente os temas "Nunca Mais" (álbum "Palavras ao Vento") e "Perigo" (álbum "Mano a Mano"), quando é que podem esperar voltar a ouvi-la? 

P.A.M.: (risos) Eu não tenho muito jeito para cantar, embora goste muito de cantar. Esses discos, em que cantávamos todos juntos, + foram muito felizes ...

CONT.: A Resistência acabou definitivamente? 

P.A.M.: Quando nos encontramos falamos sempre nisso. Algumas das bandas naquela altura ainda não eram tão famosas como são hoje. Era sempre muito difícil juntar toda a gente e hoje ainda mais. Mas continuamos a ter esse sonho porque foi para nós algo importante...

"Um som único" 

CONT: Foi bom voltar ao Luxemburgo no quadro deste Festival de Música e Teatro de Wiltz? 

Carlos Maria Trindade: Este festival é muito bem organizado. Para nós é sempre bom, porque costumamos fazer este circuito de festivais por toda a Europa. As pessoas que frequentam estes festivais são pessoas que gostam de música e que têm um espírito aberto. Não precisamos só de um público que vá ver os Madredeus porque são famosos, mas porque ouvem a música, e este público acho que ouviu a música...

CONT.: Faço-lhe a mesma pergunta que fiz à Teresa e ao Pedro Ayres, como é que definiria a música dos Madredeus?

C.M.T.: É um som único, um som baseado em composições originais cantadas em Português, para a voz da Teresa Salgueiro, que é o mais importante. Isso é Madredeus.

CONT.: E consegue ter tempo para os seus outros projectos, nomeadamente a solo? 

C.M.T.: O José Peixoto e eu trabalhamos a tempo inteiro para os Madredeus, mas sempre que podemos trabalhamos nos nossos projectos individuais. É importante, perante nós próprios sabermos que ainda podemos fazer música de autores individuais e explorando mais a técnica instrumentalista. Quando compomos para os Madredeus sabemos que vamos compor para aquele grupo, para aquela voz e trabalhamos de maneira específica para os Madredeus, que é um grupo semi-acústico muito interessante.

Festival de Wiltz 2001 com Gilberto Gil

A actuação dos Madredeus em Wiltz foi um dos maiores sucessos dos últimos tempos, confidenciava-nos, no final do espectáculo, um responsável da organização.

"O recinto estava lotado, estavam cerca de 1100 pessoas. É um record para o Festival de Wiltz, que costuma ter entre 600 e 900 pessoas quando temos casa cheia. Só o Miles Davis igualou este número em 1991, quando veio cá", disse o mesmo reponsável, visivelmente satisfeito, adiantando "para o ano já estamos a pensar em cá trazer o Gilberto Gil".

A toda a organização do Festival de Wiltz um bem-haja por este tipo de iniciativas e por ter trazido até nós um dos melhores grupos e o mais internacional da música portuguesa.

Texto: José Luís Correia
Fotos: Paulo Lobo 
in CONTACTO, 28/07/2000

quarta-feira, 20 de julho de 2005

No Conselho de Imprensa do Luxemburgo

Foto: Marc Wilwert

De 8 de Março a 11 de Maio decorreram na "Maison de la Presse", na capital, cursos organizados pelo Conselho de Imprensa do Luxemburgo sobre a Constituição Europeia, finanças comunais e outros temas de interesse que acabaram por enriquecer os frequentadores dos mesmos.

Na semana passada, os 22 jornalistas que ali se deslocaram semanalmente receberam os diplomas: Jean-Marie Backes (Tageblatt); Ulrike Botzler (Télécran); Marion Bur (La Voix du Luxembourg); José Luís Correia (CONTACTO); José Campinho (Correio); Ralph Di Marco (La Voix du Luxembourg); Maurice Fick (La Voix du Luxembourg); Marie-Paul Fischbach (de radio 100,7); Alex Fohl (Tageblatt); Pascal Hansen (Tageblatt); René Hoffmann (Le Jeudi); Diane Klein (RTL); Joseph Lorent (d'Wort); Lucien Montebrusco (Tageblatt); Sascha Seil (Tageblatt); Fabienne Pirsch (Télécran); Tom Reisen (Tageblatt); Max Theis; (RTL); Wolf von Leipzig (d'Wort); Patrick Welter (Lëtzebuerg Journal); Marc Willière (d'Wort) e Raphaël Zwank (d'Wort).

in CONTACTO
20/07/2005

sábado, 16 de julho de 2005

Concerto de Sara Tavares: Arco-íris musical em Wiltz

Aos 26 anos, Sara Tavares é já um valor seguro da música em Portugal 
Foto: Jos. Scheer 

A meio caminho entre a África e a Europa, e com influências que vão desde o gospel e o jazz à bossa nova, passando pelo fado e pela música portuguesa, as canções de Sara Tavares conquistaram a cidade alta de Wiltz, no passado domingo.

A assistência – cerca de 300 pessoas – deixou-se aquecer pela voz solar da cantora, apesar da chuva e do frio que insistiam. Sara soube, a cada instante – com músicas como "Chuva de Verão" e "Tu és o Sol" – aproveitar o lento entardecer bucólico do local, para transportar o público num arco-íris musical que durou cerca de uma hora e meia. Afinal, ela era a estrela, o novo sol.

A jovem cantora, hoje com 26 anos, provou que fez uma longa caminhada desde a "Chuva de Estrelas" (programa da SIC, onde foi revelada, em 1994). Cantou músicas dos seus dois álbuns com voz sempre sentida e como se estivesse entre amigos. E estava, porque o público, até aquele que não conhecia o seu trabalho, rendia-se. "Estrela Mãe" (já a noite caía), escrita por Paulo de Carvalho e composta por Ivan Lins especialmente para si, foi um instante sereno.

Sara ofereceu ainda ao público "Balancê", do seu próximo álbum. Alternavam músicas suaves e outras mais batucadas e houve quem não resistisse a dar um pé de dança e saltasse da plateia para junto do palco. Trocando a guitarra pela percussão com bastante à-vontade, Sara encantou sobretudo em momentos únicos como quando cantou a solo a canção de embalar "Barquinho da Esperança", do seu primeiro álbum ("Sara Tavares & Shout", de 1996), um original das "Doce" (escrito, em 1984, por Pedro Ayres Magalhães e Miguel Esteves Cardoso), que revisitou com a sua voz quente, ao mesmo tempo que tocava "calimba" (um instrumento africano feito a base de palhetas).

No fim, e com o seu sorriso, Sara conseguiu mesmo contagiar os mais fleugmáticos e irredutíveis do público a acompanharem-na em "Mi ma bô" (canção do álbum do mesmo nome de 1999).

Em conversa com a nossa reportagem, confia-se seduzida por Wiltz: "Quem organiza este Festival tem uma visão com muita sensibilidade. É muito bonito. Cantei a primeira canção a capella com os passarinhos (sorrisos)... Apesar de ser um recinto ao ar livre, as pessoas respeitarem silêncio absoluto. É um lugar fantástico. Adorei!"

Sara ainda se lembra bem da sua passagem, há quatro anos, por Kockelscheuer.

"Quando vim cá pela primeira vez, estava muito entusiasmada, o disco tinha saído há pouco tempo. Era das primeira vezes que eu saía de Portugal com aquele disco. Havia aquela euforia de mostrar a música às pessoas", recorda.

E fala-nos da sua evolução desde então: "Embora o projecto usasse as mesmas canções como base, é agora diferente. Hoje, estou numa fase mais intimista, estou preparada para explorar outras sonoridades. Estou mais próxima não só das minhas raízes culturais e familiares, mas das minhas raízes pessoais e espirituais. Sinto-me mais madura, embora saiba que é um processo e que ainda sou muita nova." Este processo explica-o, afirmando-se profundamente mediterrânica.

"Nasci e cresci em Portugal e a música portuguesa esteve sempre presente. Depois, quando comecei a trabalhar, interessei-me muito pela música cabo-verdiana. Em Cabo Verde sou aceite como crioula, mas também sou vista como uma europeia. A minha música está também a meio caminho desses dois continentes", diz. O próximo álbum já está na calha, mas "não há datas", e justifica-se dizendo que "diariamente trabalho nas ideias, nos arranjos, serão essencialmente composições minhas. Estou num processo muito grande de descoberta da minha musicalidade. É isso que eu quero agora apresentar e partilhar com as pessoas".

Tendo optado pelo gospel em determinado momento da sua carreira, hoje, os seus sons mudaram, mos o essencial ainda lá está: "Acredito muito em Deus. Acho que a minha música é uma oportunidade de abraçar as pessoas e de lhes passar uma mensagem. Será sempre a mensagem bíblica de paz e amor, e de libertação para todos os povos". Não gosta que lhe chamem nem se considera embaixatriz de Cabo Verde, ao mesmo título que Cesária Évora, por exemplo. Diz antes que a sua voz representa a "nova geração, dos que nasceram em Portugal, no Luxemburgo, na Holanda, na América, onde há grandes comunidades da segunda e terceira geração de cabo-verdianos".

"Eu não canto os estilos tradicionais de Cabo Verde. A minha música é mais contemporânea, mais europeia, mais mestiça ainda que aquela mestiçagem". No fim do concerto, o público não a deixou partir sem um "encore". Voltou com "Borboleta" e a esvoaçar se foi... para voos mais altos. Por cá, esperamos pelo seu regresso.

José Luís Correia 
in CONTACTO, 16/07/2004